quinta-feira, dezembro 23, 2010

Quem se mete com um certo grupo e com aldrabões (não) leva

(imagem daqui)

Justiça
Salário deste mês não chegou a todos os juízes

Ministério reconhece que o sistema informático não processou vencimentos. Problema poderá derivar de intromissão informática das Finanças.

Há um grupo de três dezenas de juízes ao qual não foi pago o ordenado deste mês ou outros subsídios. Depois dos problemas com o pagamento de facturas que levaram há dias ao corte de água e de telefones nalguns tribunais, a questão financeira começa a ser um problema, mas os responsáveis pelo Ministério da Justiça garantem que, desta vez, tudo não passou de uma lamentável falha e que a situação está em vias de ser reparada.

"Por razões desconhecidas, e alheias à DGAJ [Direcção-Geral da Administração Judiciária], confirma-se que o sistema informático não processou os vencimentos a 19 juízes e o subsídio de compensação a outros 12, num universo de mais de 4000 salários processados mensalmente", esclareceu o gabinete do ministro Alberto Martins, em resposta por email remetida ao PÚBLICO.

O ministério informou ainda que, "apesar de alheia a esta situação, a DGAJ contactou os juízes ou directamente, ou através dos Tribunais da Relação", que ficaram assim "conhecedores das razões do não processamento". Segundo foi também explicado por fontes do ministério, a falha foi detectada ainda na terça-feira, tendo a DGAJ procedido ao processamento manual dos ordenados em falta. As ordens de transferência deram entrada no banco durante o dia de ontem, mas, como só ficam disponíveis depois de um prazo de 48 horas, é provável que nalguns casos as verbas só estejam disponíveis na próxima semana.

Apesar das "razões desconhecidas" formalmente invocadas para justificar a falha, tudo indica que o problema terá estado relacionado com uma intromissão do Instituto de Informática das Finanças no sistema durante a operação de processamento dos vencimentos do Ministério da Justiça. A explicação é que, tendo aquele instituto acesso ao sistema de outros ministérios, a sua entrada terá tido o efeito de ter interrompido o processamento. Assim se justifica que a falha tenha atingido apenas um grupo restrito de magistrados, todos da magistratura judicial e com números de ordem seguidos.

Quem não acredita nas falhas da informática é a Associação Sindical dos Juízes Portugueses, que aponta antes para um problema de gestão e de falta de credibilidade do ministério. "Os computadores não falham, falha é quem trabalha com eles. É o descrédito completo do ministério em termos de gestão de dinheiros públicos", disse o presidente, António Martins, para quem tudo se resume a "um caso sério de falta de responsabilidade perante o Estado e os portugueses". O juiz não descarta a hipótese de terem sido feitas transferências de várias contas, "uma das quais não teria fundos".

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