Mostrar mensagens com a etiqueta Ambiente. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Ambiente. Mostrar todas as mensagens

domingo, março 03, 2024

Mário Ruivo nasceu há 97 anos...


Mário João de Oliveira Ruivo (Campo Maior, 3 de março de 1927Lisboa, 25 de janeiro de 2017), mais conhecido por Mário Ruivo, foi um cientista e político português, pioneiro na defesa do oceano e no lançamento das temáticas ambientais em Portugal. Deixa como legado o compromisso com uma relação mais harmoniosa entre a sociedade e o oceano, através das ciências oceânicas.

 

Vida

Mário Ruivo foi um cientista e humanista português, precursor na defesa dos oceanos, das questões ambientais e de cidadania.

Foi dirigente da Direção Universitária de Lisboa, do MUD Juvenil, na década de 40, tendo estado preso em 1947 por atividades contra a ditadura. Formado em Biologia pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa no ano de 1950, especializou-se em oceanografia biológica e gestão de recursos vivos na Universidade Paris-Sorbonne (1951-54), tendo desenvolvido a sua investigação em Portugal e em diversos países europeus. Regressado a Portugal, integrou o conselho editorial da Revista Seara Nova.

Foi diretor da Divisão de Recursos Aquáticos e do Ambiente do Departamento de Pescas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (1961-74), sediado em Roma.

Foi Ministro dos Negócios Estrangeiros no V Governo Provisório (1975) e Secretário de Estado das Pescas nos II, III e IV Governos Provisórios (1974-75).

Entre 1975 e 1979 foi Diretor-Geral dos Recursos Aquáticos e Ambiente do Ministério da Agricultura e Pescas e Chefe da Delegação Portuguesa à Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (1974-78). Foi Secretário da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO (1980-88), membro do Conselho Consultivo da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica - SFCT (1986-95) e presidente da Comissão de Avaliação e Controle Independente - Projeto COMBO, MEPAT (1996-97). Foi também coordenador da Comissão Mundial Independente para os Oceanos (1995-98) e membro da Comissão Estratégica dos Oceanos (2003-2004), bem como conselheiro científico da Expo 98, dedicada ao tema “Os Oceanos, um Património para o Futuro”.

Foi membro do Board of Trustees do International Ocean Institute e vice-presidente da Associação Europeia da Ciência e Tecnologia do Mar.

Esteve na criação e presidiu à Eurocean – European Centre for information on Marine Science and Technology, em 2002, organização que procura promover a troca de informação na área das ciências e tecnologias do mar, com sede em Lisboa.

Foi membro da Direção do Centro Nacional de Cultura, membro da Sociedade de Geografia de Lisboa e membro vitalício do Conselho Geral da Fundação Mário Soares, entre outros cargos relevantes.

Foi, até ao seu falecimento, em 2017, presidente da Comissão Oceanográfica Intersetorial do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável e presidente do Fórum Permanente para os Assuntos do Mar.

Morreu a 25 de janeiro de 2017, em Lisboa, aos 89 anos de idade.

Em 2012, a Eurocean lançou o Prémio Mário Ruivo com o objetivo de chamar a atenção para a importância do oceano e dos serviços que presta à humanidade. 

Em 2018, o Ministério do Mar lançou o prémio “Mário Ruivo – Gerações Oceânicas”, para promover o conhecimento sobre o oceano entre os jovens, alertando para a sua importância no quotidiano e no futuro da humanidade.

 

quarta-feira, janeiro 31, 2024

Philip Glass faz hoje 87 anos

    

Philip Morris Glass (Baltimore, 31 de janeiro de 1937) é um compositor norte-americano que está entre os compositores mais influentes do final do século XX. A sua música é normalmente chamada de minimalista, embora ele não aprecie esta expressão.


in Wikipédia

 


terça-feira, dezembro 12, 2023

O Acordo de Paris (para combater a mudança climática) foi aprovado há oito anos

  
O Acordo de Paris é um tratado no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (CQNUMC), que rege medidas de redução de emissão de gases estufa a partir de 2020, a fim de conter o aquecimento global abaixo de 2 ºC, preferencialmente em 1,5 ºC, e reforçar a capacidade dos países de responder ao desafio, num contexto de desenvolvimento sustentável. O acordo foi negociado em Paris durante a COP21 e aprovado em 12 de dezembro de 2015

 

quarta-feira, setembro 27, 2023

O livro Primavera Silenciosa chegou às livrarias há 61 anos...


Pesticidas 

Rachel Carson desafiou a indústria química há 60 anos. Faz-nos falta ler hoje Primavera Silenciosa? 

 

Há seis décadas, o Primavera Silenciosa alertava-nos para como o uso excessivo de pesticidas estava a destruir ecossistemas e a própria saúde humana. O livro de Rachel Carson impulsionou a proibição do DDT e o movimento ambientalista. Hoje, está indisponível em Portugal. O que esta obra nos pode ensinar em tempos de crise climática? 

No dia 27 de setembro de 1962, chegava às livrarias nos Estados Unidos Primavera Silenciosa, de Rachel Carson. Tinha uma capa verde-clara, com a ilustração de um ribeiro tímido e plantas aquáticas – uma aparência despretensiosa para uma obra tão controversa, que trazia em si a semente de uma revolução social e acabaria por condicionar o curso da História. 

As 368 páginas do livro encerravam uma mensagem que não era nova para muitos leitores. Capítulos do livro já haviam sido publicados em série na revista New Yorker em junho de 1962, inflamando um debate nacional à volta do uso desregrado de pesticidas e mobilizando cidadãos para aquele que viria a ser o movimento ambientalista moderno. No mês seguinte, a manchete do New York Times condensava o ar do tempo: “Primavera Silenciosa é agora um Verão barulhento”. Em 1972, uma década depois, foi banido nos Estados Unidos o diclorodifeniltricloroetano (DDT).

Primavera Silenciosa tornou-se rapidamente um bestseller e, em 1963, já estava traduzido em 14 línguas. Só foi publicado em Portugal em 1966, pela Editorial Pórtico, com tradução de Raúl Correia. Hoje o título está indisponível no mercado nacional, embora algumas livrarias online vendam a edição brasileira. Faz-nos falta ler hoje Primavera Silenciosa? O que a obra nos ensina em tempos de crise climática? 

O filósofo Viriato Soromenho Marques acredita que os portugueses têm “todas as razões” para ler ou revisitar Primavera Silenciosa. O professor catedrático da Universidade de Lisboa explica que Rachel Carson, quando aponta o dedo para a indústria química, não se limita a mostrar falhas técnicas ou científicas.“Ela vai mais longe”, diz. 

Rachel Carson denuncia “a escassa capacidade humana” de produzir mecanismos de regulação para as tecnologias que a própria humanidade engendrou. “Cabe a nós, 60 anos depois, numa situação muito mais dramática do que aquela que o mundo se encontrava em 1962, redobrar e prosseguir continuamente [esse esforço]”, afirma o filósofo português ao PÚBLICO. 

Viriato Soromenho Marques, que ensina Filosofia da Natureza na universidade, lamenta que Primavera Silenciosa não seja lido no país como título de divulgação científica. “O público leitor em Portugal acaba por ser mais académico, infelizmente”, refere o professor da Universidade de Lisboa. 

Soromenho Marques leu o texto original, em inglês, uma edição comemorativa publicada em 1992 e comprada pelo docente durante uma viagem a Berkeley, nos Estados Unidos. O livro está todo sublinhado, anotado. “A primeira leitura teve um impacto enorme em mim”, confessa. 

 O facto de Primavera Silenciosa estar indisponível não só nas livrarias, mas também para empréstimo em bibliotecas também prejudica a democratização do texto no país. “Acredito que há muitos leitores de Rachel Carson em Portugal, mas o objetivo de chegar ao grande público ainda não foi conseguido”, afirma o filósofo português numa conversa com o PÚBLICO, que pode ser ouvida na íntegra no mais recente episódio do podcast do Azul.

Christof Mauch, diretor do Centro Rachel Carson da Universidade de Munique, na Alemanha, corrobora a ideia de que, passadas seis décadas, Primavera Silenciosa continua a ser uma leitura necessária. “Acredito que a popularidade de Carson só vai aumentar no futuro, em parte porque há algo de profético na sua escrita”, afirma ao PÚBLICO. 

“Os textos de Rachel Carson não são apenas [a exposição de] factos. Eles combinam uma advertência e uma visão do amanhã; ensinam-nos, acima de tudo, que os humanos são organismos como todos os outros e que, para termos um futuro, nós precisamos utilizar os recursos da Terra sem perturbar o equilíbrio geral”, refere Christof Mauch. 

Para celebrar as seis décadas do livro, o Centro Rachel Carson está a organizar para a segunda quinzena de outubro uma conferência intitulada “Primaveras Silenciosas” – assim mesmo, no plural –, com um programa no qual serão exploradas “histórias globais sobre pesticidas e sobre o nosso mundo tóxico”. As narrativas que emergiram da obra clássica dos anos 60 parecem mostrar como Rachel Carson transformou a forma como escrevemos hoje sobre a natureza.

“Carson tem sido uma inspiração maior. Os seus textos estão na mente de muitos romancistas também – como Margaret Atwood, Richard Powers e muitos outros. Acredito que nenhum outro autor teve um impacte parecido nas humanidades ligadas ao ambiente, seja porque a autora concilia ciência pura com filosofia, seja porque Carson tem um entendimento profundo da complexidade da vida – do microscópico ao macroscópico”, observa Christof Mauch. 

 

 

Conferência programada para outubro em Munique, na Alemanha

 

Tornar o microscópico visível

Os 17 capítulos de Primavera Silenciosa têm, entre tantas outras coisas, o condão de tornar compreensíveis eventos moleculares que não são visíveis a olho nu. Na parte intitulada “Elixires da morte”, Rachel Carson demonstra a omnipresença do DDT. “Pela primeira vez na história do mundo, todos os seres humanos estão agora sujeitos ao contacto com químicos perigosos, desde o momento da fecundação até à morte”, lê-se nas primeiras linhas do texto.

A autora prossegue citando vários estudos que atestam que o corpo humano não possui uma barreira protetora; aquilo que é capaz de matar insetos também afeta todas as formas de vida num ecossistema, persistindo em tecidos e fluidos impensáveis como a placenta e o leite materno. O leitor do século XXI, que lê Primavera Silenciosa enquanto o planeta não para de aquecer, fará talvez um paralelo imediato com os microplásticos. Tal como o DDT, a poluição plástica está por todo lado, do gelo do Ártico ao sangue humano.

Hoje parece-nos óbvio que haja moléculas persistentes nos solos, alimentos e organismos vivos. Contudo, nos anos 60, em que os pesticidas modernos eram vistos como o único caminho para uma agricultura capaz de alimentar o mundo, esta não era uma ideia dominante no imaginário coletivo. O DDT era apresentado ainda como a panaceia para a malária em países africanos – e, por isso, os detratores acusaram Rachel Carson de “assassinar” milhões de crianças afetadas pela doença.

Como o próprio nome “pesticidas” sugere, estes produtos deveriam matar apenas pestes agrícolas. Daí Rachel Carson ter dito certa vez que a denominação induzia em erro, e que a molécula deveria ser chamada de biocida, e não pesticida. Porque não mata apenas insetos – também aniquila ou causa dano a outras formas de vida, alterando processos celulares em plantas, animais e seres humanos.

O título do livro remete exatamente para a potência destruidora dos inseticidas. Se moléculas desenhadas para aniquilar pestes são dispersas de forma desregrada, as aves também serão afetadas e a Primavera chegará sem o canto destes animais.

Esta imagem emerge de uma balada de John Keats, cujos versos servem de epígrafe ao livro: “O carriço desapareceu do lago / E nenhum pássaro canta.” Com a metáfora do silêncio, Carson conseguiu transformar uma denúncia grave, alicerçada em sólidos argumentos científicos, numa clara mensagem de causa e efeito.

“Rachel Carson mostrou com muita coragem nos anos 60 – e ainda hoje há poucas pessoas que o fazem – que, se nós analisarmos, dos departamentos e institutos que trabalham na área dos insetos [nos Estados Unidos], só 2% focam-se em controlo biológico (controlo natural das pragas), sendo que os restantes 98% recebem financiamento da indústria química. E esta entrada em cena do dinheiro faz toda a diferença”, afirma Soromenho Marques.

O lobby da indústria química nos Estados Unidos não tardou a reagir, tentando desacreditar não apenas o livro mas também a autora. Um sector que movimentava milhões de dólares não poderia permitir que, nos anos 60, uma mulher solteira, sem um doutoramento ou afiliação a uma universidade (Carson interrompeu os estudos para sustentar a família), denunciasse os mecanismos que permitiam expor populações inteiras a agentes tóxicos.

Um texto fundador do ambientalismo

Robert Musil explica, no livro Rachel Carson and Her Sisters, por que razão a obra é considerada o texto fundador do ambientalismo contemporâneo. Primeiro, porque consegue aliar boa ciência a uma escrita impecável. Por mais urgente que seja uma mensagem, ela não chegará ao destinatário se não for bem articulada, encapsulada pelo emissor. E aí residia uma das destrezas de Carson: dominava, desde muito nova, a arte da comunicação de ciência.

Carson nasceu a 27 de maio de 1907 em Springdale, Pensilvânia. Cresceu numa casa repleta de livros e era encorajada por uma mãe culta, Maria McLean Carson. Ainda muito jovem, publicou artigos de história natural no jornal The Baltimore Sun e, já madura, fez carreira como editora-chefe das publicações do Departamento de Pescas e Natureza do Governo norte-americano.

Antes de Primavera Silenciosa, já era uma celebridade literária: o livro The Sea Around Us foi publicado em capítulos na The New Yorker, em 1951, e granjeou uma resposta calorosa dos leitores. Carson venceu prémios e repetiu o sucesso editorial com The Edge of the Sea. Por outras palavras, a autora conhecia bem os meandros editoriais – e isto nos leva à segunda razão, de acordo com Robert Musil, para o livro de 1962 tornar-se um marco da literatura ambiental.

O lançamento de Primavera Silenciosa foi cuidadosamente desenhado para ser uma ferramenta de ativismo ambiental, sugere Musil. Carson movia-se bem tanto na academia como na política. A bióloga rodeou-se de cientistas de peso como George Wallace, na Universidade de Michigan, e Edward O. Wilson, na de Harvard. Contava ainda com apoiantes nas associações civis.

 

Rachel Carson aos 55 anos, com binóculos para observação da natureza

 

O terreno foi bem preparado; os próprios editores sabiam que a obra seria atacada pelo poderoso sector da indústria química. Eles tentaram, por isso, dissociar o livro de expressões ecologistas vistas como radicais – como o vegetarianismo, por exemplo.

“Carson esteve a pensar nas recomendações para a legislação e mudanças de políticas públicas desde o início da investigação, cinco anos antes. Durante a escrita de Primavera Silenciosa, contactou vários especialistas para discutir as suas ideias de reformas. Rachel queria que o seu testemunho oferecesse recomendações específicas que pudessem trazer melhorias mas que, ao mesmo tempo, fossem politicamente exequíveis”, escreve a biógrafa Linda Lear no livro Rachel Carson: Witness for Nature.

Num laborioso trabalho de marketing, os simpatizantes de Carson terão feito circular exemplares da obra nos circuitos de poder. Primavera Silenciosa terá chegado às mãos de figuras políticas de relevo como congressistas, secretários do Governo de Kennedy e líderes associativos influentes. A erradicação do DDT nos Estados Unidos não aconteceu num vácuo sociopolítico. Se por um lado esta vitória deve muito a Rachel Carson, por outro, seria ingénuo ignorar que a rede de contactos foi previamente sensibilizada em prol da proteção dos ecossistemas.

“Rachel Carson não acordou de repente um movimento de conservação meio adormecido, vamos salvar os papinhos e os falcões, nem baniu o DDT sozinha. Ela teve ajuda. Mesmo muita”, defende Robert Musil, que hoje dirige o Rachel Carson Council em Maryland, nos Estados Unidos.

Viriato Soromenho Marques concorda com a ideia de que “Rachel Carson não está sozinha”, citando, por exemplo, o trabalho precursor do naturalista e filósofo Aldo Leopold (1887-1948), que fazia o elogio de uma “ética da terra”. Há um lastro prévio mas, do ponto de vista de transposição das ideias para as políticas públicas, Rachel Carson afirma-se como uma divisora de águas.

“A lei-quadro do ambiente, de 1969, e o Dia da Terra, [celebrado pela primeira vez a 22 de abril de 1970], por exemplo, têm a sua marca”, recorda Soromenho Marques. Carson, que já escreveu o livro com um cancro de mama avançado, não sobreviveu para testemunhar estas vitórias. Morreu em 1964, dois anos após a publicação de Primavera Silenciosa.

Carson inspirou gerações de ativistas e ecólogos, sobretudo nos Estados Unidos. A ambientalista Erin Greeson, hoje com 45 anos, vê desde muito jovem Rachel Carson como “uma heroína”. “Rachel Carson incentivou os movimentos. Ela seria inspirada pelos movimentos que acontecem hoje, em grande parte encabeçados por jovens líderes que se recusam a aceitar o mundo fraturado e os sistemas destrutivos que lhes estamos a entregar”, diz ao PÚBLICO diretora de comunicação do Instituto para as Energias Renováveis e a Vida Selvagem, sediado em Washington.

Para Greeson, a voz de Carson continua a ecoar hoje e, de algum modo, deu-nos ferramentas enquadrar e comunicar os riscos que a crise climática coloca à humanidade. Ainda assim, parece faltar-nos uma metáfora poderosa para condensar a urgência de um planeta a arder, cada vez mais fustigado com eventos climáticos extremos.

“Talvez não precisemos mais de metáforas. Rachel Carson descrevia em Primavera Silenciosa algo que ainda não podia ser realmente visto. Carson falava sobre futuro. Agora, temos muitos exemplos de incêndios e inundações – as metáforas tornaram-se desnecessárias”, afirma o escritor e ativista climático Bill McKibben, à margem de uma entrevista ao PÚBLICO.

Já Soromenho Marques, acredita que “a crise climática é uma janela perturbante, gravíssima para algo mais amplo: a crise global do ambiente”. Por isso, quando enunciamos o problema em busca de soluções, devemos nos desviar de “expressões redutoras” como “transição energética” e focar no primordial: “a nossa principal crise é a do modo como habitamos a Terra”.

A solução passa, portanto, pela transformação, pela possibilidade – que ainda temos – de escolher outra estrada. Para Soromenho Marques, trata-se de um ensinamento válido que, seis décadas depois, Primavera Silenciosa continua a oferecer. Como nestas palavras de Rachel Carson, que o filósofo português lê em voz alta: “A estrada pela qual temos estado a viajar por tão longo tempo é ilusoriamente fácil: uma auto-estrada de pavimentação lisa, pela qual avançamos em grande velocidade; mas, na sua extremidade final, o que há é o desastre.”

 

in Público (2022)

sexta-feira, março 03, 2023

Mário Ruivo nasceu há 96 anos


Mário João de Oliveira Ruivo (Campo Maior, 3 de março de 1927Lisboa, 25 de janeiro de 2017), mais conhecido por Mário Ruivo, foi um cientista e político português, pioneiro na defesa do oceano e no lançamento das temáticas ambientais em Portugal. Deixa como legado o compromisso com uma relação mais harmoniosa entre a sociedade e o oceano, através das ciências oceânicas.

 

Vida

Mário Ruivo foi um cientista e humanista português, precursor na defesa dos oceanos, das questões ambientais e de cidadania.

Foi dirigente da Direção Universitária de Lisboa, do MUD Juvenil, na década de 40, tendo estado preso em 1947 por atividades contra a ditadura. Formado em Biologia pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa no ano de 1950, especializou-se em oceanografia biológica e gestão de recursos vivos na Universidade Paris-Sorbonne (1951-54), tendo desenvolvido a sua investigação em Portugal e em diversos países europeus. Regressado a Portugal, integrou o conselho editorial da Revista Seara Nova.

Foi diretor da Divisão de Recursos Aquáticos e do Ambiente do Departamento de Pescas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (1961-74), sediado em Roma.

Foi Ministro dos Negócios Estrangeiros no V Governo Provisório (1975) e Secretário de Estado das Pescas nos II, III e IV Governos Provisórios (1974-75).

Entre 1975 e 1979 foi Diretor-Geral dos Recursos Aquáticos e Ambiente do Ministério da Agricultura e Pescas e Chefe da Delegação Portuguesa à Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (1974-78). Foi Secretário da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO (1980-88), membro do Conselho Consultivo da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica - SFCT (1986-95) e presidente da Comissão de Avaliação e Controle Independente - Projeto COMBO, MEPAT (1996-97). Foi também coordenador da Comissão Mundial Independente para os Oceanos (1995-98) e membro da Comissão Estratégica dos Oceanos (2003-2004), bem como conselheiro científico da Expo 98, dedicada ao tema “Os Oceanos, um Património para o Futuro”.

Foi membro do Board of Trustees do International Ocean Institute e vice-presidente da Associação Europeia da Ciência e Tecnologia do Mar.

Esteve na criação e presidiu à Eurocean – European Centre for information on Marine Science and Technology, em 2002, organização que procura promover a troca de informação na área das ciências e tecnologias do mar, com sede em Lisboa.

Foi membro da Direção do Centro Nacional de Cultura, membro da Sociedade de Geografia de Lisboa e membro vitalício do Conselho Geral da Fundação Mário Soares, entre outros cargos relevantes.

Foi, até ao seu falecimento, em 2017, presidente da Comissão Oceanográfica Intersetorial do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável e presidente do Fórum Permanente para os Assuntos do Mar.

Morreu a 25 de janeiro de 2017, em Lisboa, aos 89 anos de idade.

Em 2012, a Eurocean lançou o Prémio Mário Ruivo com o objetivo de chamar a atenção para a importância do oceano e dos serviços que presta à humanidade. 

Em 2018, o Ministério do Mar lançou o prémio “Mário Ruivo – Gerações Oceânicas”, para promover o conhecimento sobre o oceano entre os jovens, alertando para a sua importância no quotidiano e no futuro da humanidade.

 

terça-feira, janeiro 31, 2023

Philip Glass faz hoje 86 anos

    

Philip Morris Glass (Baltimore, 31 de janeiro de 1937) é um compositor norte-americano que está entre os compositores mais influentes do final do século XX. A sua música é normalmente chamada de minimalista, embora ele não aprecie esta expressão.


in Wikipédia

 


segunda-feira, dezembro 12, 2022

O Acordo de Paris (sobre a mudança climática) foi aprovado há sete anos

  
O Acordo de Paris é um tratado no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (CQNUMC), que rege medidas de redução de emissão de gases estufa a partir de 2020, a fim de conter o aquecimento global abaixo de 2 ºC, preferencialmente em 1,5 ºC, e reforçar a capacidade dos países de responder ao desafio, num contexto de desenvolvimento sustentável. O acordo foi negociado em Paris durante a COP21 e aprovado em 12 de dezembro de 2015

 

terça-feira, setembro 27, 2022

O livro Primavera Silenciosa foi publicado há sessenta anos...


Pesticidas 

Rachel Carson desafiou a indústria química há 60 anos. Faz-nos falta ler hoje Primavera Silenciosa? 

Há seis décadas, o Primavera Silenciosa alertava-nos para como o uso excessivo de pesticidas estava a destruir ecossistemas e a própria saúde humana. O livro de Rachel Carson impulsionou a proibição do DDT e o movimento ambientalista. Hoje, está indisponível em Portugal. O que esta obra nos pode ensinar em tempos de crise climática? 

No dia 27 de setembro de 1962, chegava às livrarias nos Estados Unidos Primavera Silenciosa, de Rachel Carson. Tinha uma capa verde-clara, com a ilustração de um ribeiro tímido e plantas aquáticas – uma aparência despretensiosa para uma obra tão controversa, que trazia em si a semente de uma revolução social e acabaria por condicionar o curso da História. 

As 368 páginas do livro encerravam uma mensagem que não era nova para muitos leitores. Capítulos do livro já haviam sido publicados em série na revista New Yorker em Junho de 1962, inflamando um debate nacional à volta do uso desregrado de pesticidas e mobilizando cidadãos para aquele que viria a ser o movimento ambientalista moderno. No mês seguinte, a manchete do New York Times condensava o ar do tempo: “Primavera Silenciosa é agora um Verão barulhento”. Em 1972, uma década depois, foi banido nos Estados Unidos o diclorodifeniltricloroetano (DDT).

Primavera Silenciosa tornou-se rapidamente um bestseller e, em 1963, já estava traduzido em 14 línguas. Só foi publicado Portugal em 1966, pela Editorial Pórtico, com tradução de Raúl Correia. Hoje o título está indisponível no mercado nacional, embora algumas livrarias online vendam a edição brasileira. Faz-nos falta ler hoje Primavera Silenciosa? O que a obra nos ensina em tempos de crise climática? 

O filósofo Viriato Soromenho Marques acredita que os portugueses têm “todas as razões” para ler ou revisitar Primavera Silenciosa. O professor catedrático da Universidade de Lisboa explica que Rachel Carson, quando aponta o dedo para a indústria química, não se limita a mostrar falhas técnicas ou científicas.“Ela vai mais longe”, diz. 

 Rachel Carson denuncia “a escassa capacidade humana” de produzir mecanismos de regulação para as tecnologias que a própria humanidade engendrou. “Cabe a nós, 60 anos depois, numa situação muito mais dramática do que aquela que o mundo se encontrava em 1962, redobrar e prosseguir continuamente [esse esforço]”, afirma o filósofo português ao PÚBLICO. 

Viriato Soromenho Marques, que ensina Filosofia da Natureza na universidade, lamenta que Primavera Silenciosa não seja lido no país como título de divulgação científica. “O público leitor em Portugal acaba por ser mais académico, infelizmente”, refere o professor da Universidade de Lisboa. 

Soromenho Marques leu o texto original, em inglês, uma edição comemorativa publicada em 1992 e comprada pelo docente durante uma viagem a Berkeley, nos Estados Unidos. O livro está todo sublinhado, anotado. “A primeira leitura teve um impacto enorme em mim”, confessa. 

 O facto de Primavera Silenciosa estar indisponível não só nas livrarias, mas também para empréstimo em bibliotecas também prejudica a democratização do texto no país. “Acredito que há muitos leitores de Rachel Carson em Portugal, mas o objetivo de chegar ao grande público ainda não foi conseguido”, afirma o filósofo português numa conversa com o PÚBLICO, que pode ser ouvida na íntegra no mais recente episódio do podcast do Azul.

Christof Mauch, diretor do Centro Rachel Carson da Universidade de Munique, na Alemanha, corrobora a ideia de que, passadas seis décadas, Primavera Silenciosa continua a ser uma leitura necessária. “Acredito que a popularidade de Carson só vai aumentar no futuro, em parte porque há algo de profético na sua escrita”, afirma ao PÚBLICO. 

“Os textos de Rachel Carson não são apenas [a exposição de] factos. Eles combinam uma advertência e uma visão do amanhã; ensinam-nos, acima de tudo, que os humanos são organismos como todos os outros e que, para termos um futuro, nós precisamos utilizar os recursos da Terra sem perturbar o equilíbrio geral”, refere Christof Mauch. 

Para celebrar as seis décadas do livro, o Centro Rachel Carson está a organizar para a segunda quinzena de Outubro uma conferência intitulada “Primaveras Silenciosas” – assim mesmo, no plural –, com um programa no qual serão exploradas “histórias globais sobre pesticidas e sobre o nosso mundo tóxico”. As narrativas que emergiram da obra clássica dos anos 60 parecem mostrar como Rachel Carson transformou a forma como escrevemos hoje sobre a natureza.

“Carson tem sido uma inspiração maior. Os seus textos estão na mente de muitos romancistas também – como Margaret Atwood, Richard Powers e muitos outros. Acredito que nenhum outro autor teve um impacte parecido nas humanidades ligadas ao ambiente, seja porque a autora concilia ciência pura com filosofia, seja porque Carson tem um entendimento profundo da complexidade da vida – do microscópico ao macroscópico”, observa Christof Mauch. 

 

 

Conferência programada para outubro em Munique, na Alemanha

 

Tornar o microscópico visível

Os 17 capítulos de Primavera Silenciosa têm, entre tantas outras coisas, o condão de tornar compreensíveis eventos moleculares que não são visíveis a olho nu. Na parte intitulada “Elixires da morte”, Rachel Carson demonstra a omnipresença do DDT. “Pela primeira vez na história do mundo, todos os seres humanos estão agora sujeitos ao contacto com químicos perigosos, desde o momento da fecundação até à morte”, lê-se nas primeiras linhas do texto.

A autora prossegue citando vários estudos que atestam que o corpo humano não possui uma barreira protectora; aquilo que é capaz de matar insetos também afeta todas as formas de vida num ecossistema, persistindo em tecidos e fluidos impensáveis como a placenta e o leite materno. O leitor do século XXI, que lê Primavera Silenciosa enquanto o planeta não para de aquecer, fará talvez um paralelo imediato com os microplásticos. Tal como o DDT, a poluição plástica está por todo lado, do gelo do Árctico ao sangue humano.

Hoje parece-nos óbvio que haja moléculas persistentes nos solos, alimentos e organismos vivos. Contudo, nos anos 60, em que os pesticidas modernos eram vistos como o único caminho para uma agricultura capaz de alimentar o mundo, esta não era uma ideia dominante no imaginário coletivo. O DDT era apresentado ainda como a panaceia para a malária em países africanos – e, por isso, os detratores acusaram Rachel Carson de “assassinar” milhões de crianças afetadas pela doença.

Como o próprio nome “pesticidas” sugere, estes produtos deveriam matar apenas pestes agrícolas. Daí Rachel Carson ter dito certa vez que a denominação induzia em erro, e que a molécula deveria ser chamada de biocida, e não pesticida. Porque não mata apenas insetos – também aniquila ou causa dano a outras formas de vida, alterando processos celulares em plantas, animais e seres humanos.

O título do livro remete exatamente para a potência destruidora dos inseticidas. Se moléculas desenhadas para aniquilar pestes são dispersas de forma desregrada, as aves também serão afetadas e a Primavera chegará sem o canto destes animais.

Esta imagem emerge de uma balada de John Keats, cujos versos servem de epígrafe ao livro: “O carriço desapareceu do lago / E nenhum pássaro canta.” Com a metáfora do silêncio, Carson conseguiu transformar uma denúncia grave, alicerçada em sólidos argumentos científicos, numa clara mensagem de causa e efeito.

“Rachel Carson mostrou com muita coragem nos anos 60 – e ainda hoje há poucas pessoas que o fazem – que, se nós analisarmos, dos departamentos e institutos que trabalham na área dos insetos [nos Estados Unidos], só 2% focam-se em controlo biológico (controlo natural das pragas), sendo que os restantes 98% recebem financiamento da indústria química. E esta entrada em cena do dinheiro faz toda a diferença”, afirma Soromenho Marques.

O lobby da indústria química nos Estados Unidos não tardou a reagir, tentando desacreditar não apenas o livro mas também a autora. Um sector que movimentava milhões de dólares não poderia permitir que, nos anos 60, uma mulher solteira, sem um doutoramento ou afiliação a uma universidade (Carson interrompeu os estudos para sustentar a família), denunciasse os mecanismos que permitiam expor populações inteiras a agentes tóxicos.

Um texto fundador do ambientalismo

Robert Musil explica, no livro Rachel Carson and Her Sisters, por que razão a obra é considerada o texto fundador do ambientalismo contemporâneo. Primeiro, porque consegue aliar boa ciência a uma escrita impecável. Por mais urgente que seja uma mensagem, ela não chegará ao destinatário se não for bem articulada, encapsulada pelo emissor. E aí residia uma das destrezas de Carson: dominava, desde muito nova, a arte da comunicação de ciência.

Carson nasceu a 27 de maio de 1907 em Springdale, Pensilvânia. Cresceu numa casa repleta de livros e era encorajada por uma mãe culta, Maria McLean Carson. Ainda muito jovem, publicou artigos de história natural no jornal The Baltimore Sun e, já madura, fez carreira como editora-chefe das publicações do Departamento de Pescas e Natureza do Governo norte-americano.

Antes de Primavera Silenciosa, já era uma celebridade literária: o livro The Sea Around Us foi publicado em capítulos na The New Yorker, em 1951, e granjeou uma resposta calorosa dos leitores. Carson venceu prémios e repetiu o sucesso editorial com The Edge of the Sea. Por outras palavras, a autora conhecia bem os meandros editoriais – e isto nos leva à segunda razão, de acordo com Robert Musil, para o livro de 1962 tornar-se um marco da literatura ambiental.

O lançamento de Primavera Silenciosa foi cuidadosamente desenhado para ser uma ferramenta de ativismo ambiental, sugere Musil. Carson movia-se bem tanto na academia como na política. A bióloga rodeou-se de cientistas de peso como George Wallace, na Universidade de Michigan, e Edward O. Wilson, na de Harvard. Contava ainda com apoiantes nas associações civis.

 

Rachel Carson aos 55 anos, com binóculos para observação da natureza

 

O terreno foi bem preparado; os próprios editores sabiam que a obra seria atacada pelo poderoso sector da indústria química. Eles tentaram, por isso, dissociar o livro de expressões ecologistas vistas como radicais – como o vegetarianismo, por exemplo.

“Carson esteve a pensar nas recomendações para a legislação e mudanças de políticas públicas desde o início da investigação, cinco anos antes. Durante a escrita de Primavera Silenciosa, contactou vários especialistas para discutir as suas ideias de reformas. Rachel queria que o seu testemunho oferecesse recomendações específicas que pudessem trazer melhorias mas que, ao mesmo tempo, fossem politicamente exequíveis”, escreve a biógrafa Linda Lear no livro Rachel Carson: Witness for Nature.

Num laborioso trabalho de marketing, os simpatizantes de Carson terão feito circular exemplares da obra nos circuitos de poder. Primavera Silenciosa terá chegado às mãos de figuras políticas de relevo como congressistas, secretários do Governo de Kennedy e líderes associativos influentes. A erradicação do DDT nos Estados Unidos não aconteceu num vácuo sociopolítico. Se por um lado esta vitória deve muito a Rachel Carson, por outro, seria ingénuo ignorar que a rede de contactos foi previamente sensibilizada em prol da proteção dos ecossistemas.

“Rachel Carson não acordou de repente um movimento de conservação meio adormecido, vamos salvar os papinhos e os falcões, nem baniu o DDT sozinha. Ela teve ajuda. Mesmo muita”, defende Robert Musil, que hoje dirige o Rachel Carson Council em Maryland, nos Estados Unidos.

Viriato Soromenho Marques concorda com a ideia de que “Rachel Carson não está sozinha”, citando, por exemplo, o trabalho precursor do naturalista e filósofo Aldo Leopold (1887-1948), que fazia o elogio de uma “ética da terra”. Há um lastro prévio mas, do ponto de vista de transposição das ideias para as políticas públicas, Rachel Carson afirma-se como uma divisora de águas.

“A lei-quadro do ambiente, de 1969, e o Dia da Terra, [celebrado pela primeira vez a 22 de abril de 1970], por exemplo, têm a sua marca”, recorda Soromenho Marques. Carson, que já escreveu o livro com um cancro de mama avançado, não sobreviveu para testemunhar estas vitórias. Morreu em 1964, dois anos após a publicação de Primavera Silenciosa.

Carson inspirou gerações de ativistas e ecólogos, sobretudo nos Estados Unidos. A ambientalista Erin Greeson, hoje com 45 anos, vê desde muito jovem Rachel Carson como “uma heroína”. “Rachel Carson incentivou os movimentos. Ela seria inspirada pelos movimentos que acontecem hoje, em grande parte encabeçados por jovens líderes que se recusam a aceitar o mundo fraturado e os sistemas destrutivos que lhes estamos a entregar”, diz ao PÚBLICO diretora de comunicação do Instituto para as Energias Renováveis e a Vida Selvagem, sediado em Washington.

Para Greeson, a voz de Carson continua a ecoar hoje e, de algum modo, deu-nos ferramentas enquadrar e comunicar os riscos que a crise climática coloca à humanidade. Ainda assim, parece faltar-nos uma metáfora poderosa para condensar a urgência de um planeta a arder, cada vez mais fustigado com eventos climáticos extremos.

“Talvez não precisemos mais de metáforas. Rachel Carson descrevia em Primavera Silenciosa algo que ainda não podia ser realmente visto. Carson falava sobre futuro. Agora, temos muitos exemplos de incêndios e inundações – as metáforas tornaram-se desnecessárias”, afirma o escritor e ativista climático Bill McKibben, à margem de uma entrevista ao PÚBLICO.

Já Soromenho Marques, acredita que “a crise climática é uma janela perturbante, gravíssima para algo mais amplo: a crise global do ambiente”. Por isso, quando enunciamos o problema em busca de soluções, devemos nos desviar de “expressões redutoras” como “transição energética” e focar no primordial: “a nossa principal crise é a do modo como habitamos a Terra”.

A solução passa, portanto, pela transformação, pela possibilidade – que ainda temos – de escolher outra estrada. Para Soromenho Marques, trata-se de um ensinamento válido que, seis décadas depois, Primavera Silenciosa continua a oferecer. Como nestas palavras de Rachel Carson, que o filósofo português lê em voz alta: “A estrada pela qual temos estado a viajar por tão longo tempo é ilusoriamente fácil: uma auto-estrada de pavimentação lisa, pela qual avançamos em grande velocidade; mas, na sua extremidade final, o que há é o desastre.”

 

in Público

sábado, setembro 17, 2022

Mais um blog para visitar - Bioterra


Sugere-se que visitem o blogue de educação ambiental BioTerra, que vale bem a pena...!

quinta-feira, março 03, 2022

O cientista Mário Ruivo nasceu há 95 anos


Mário João de Oliveira Ruivo (Campo Maior, 3 de março de 1927Lisboa, 25 de janeiro de 2017), mais conhecido por Mário Ruivo, foi um cientista e político português, pioneiro na defesa do oceano e no lançamento das temáticas ambientais em Portugal. Deixa como legado o compromisso com uma relação mais harmoniosa entre a sociedade e o oceano, através das ciências oceânicas.

 

Vida

Mário Ruivo foi um cientista e humanista português, precursor na defesa dos oceanos, das questões ambientais e de cidadania.

Foi dirigente da Direção Universitária de Lisboa, do MUD Juvenil, na década de 40, tendo estado preso em 1947 por atividades contra a ditadura. Formado em Biologia pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa no ano de 1950, especializou-se em oceanografia biológica e gestão de recursos vivos na Universidade Paris-Sorbonne (1951-54), tendo desenvolvido a sua investigação em Portugal e em diversos países europeus. Regressado a Portugal, integrou o conselho editorial da Revista Seara Nova.

Foi diretor da Divisão de Recursos Aquáticos e do Ambiente do Departamento de Pescas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (1961-74), sediado em Roma.

Foi Ministro dos Negócios Estrangeiros no V Governo Provisório (1975) e Secretário de Estado das Pescas nos II, III e IV Governos Provisórios (1974-75).

Entre 1975 e 1979 foi Diretor-Geral dos Recursos Aquáticos e Ambiente do Ministério da Agricultura e Pescas e Chefe da Delegação Portuguesa à Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (1974-78). Foi Secretário da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO (1980-88), membro do Conselho Consultivo da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica - SFCT (1986-95) e presidente da Comissão de Avaliação e Controle Independente - Projeto COMBO, MEPAT (1996-97). Foi também coordenador da Comissão Mundial Independente para os Oceanos (1995-98) e membro da Comissão Estratégica dos Oceanos (2003-2004), bem como conselheiro científico da Expo 98, dedicada ao tema “Os Oceanos, um Património para o Futuro”.

Foi membro do Board of Trustees do International Ocean Institute e vice-presidente da Associação Europeia da Ciência e Tecnologia do Mar.

Esteve na criação e presidiu à Eurocean – European Centre for information on Marine Science and Technology, em 2002, organização que procura promover a troca de informação na área das ciências e tecnologias do mar, com sede em Lisboa.

Foi membro da Direção do Centro Nacional de Cultura, membro da Sociedade de Geografia de Lisboa e membro vitalício do Conselho Geral da Fundação Mário Soares, entre outros cargos relevantes.

Foi, até ao seu falecimento em 2017, presidente da Comissão Oceanográfica Intersetorial do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável e presidente do Fórum Permanente para os Assuntos do Mar.

Morreu a 25 de janeiro de 2017, em Lisboa, aos 89 anos de idade.

Em 2012, a Eurocean lançou o Prémio Mário Ruivo com o objetivo de chamar a atenção para a importância do oceano e dos serviços que presta à humanidade. 

Em 2018, o Ministério do Mar lançou o prémio “Mário Ruivo – Gerações Oceânicas”, para promover o conhecimento sobre o oceano entre os jovens, alertando para a sua importância no quotidiano e no futuro da humanidade.

 

in Wikipédia

segunda-feira, janeiro 31, 2022

Philip Glass faz hoje 85 anos

    

Philip Morris Glass (Baltimore, 31 de janeiro de 1937) é um compositor norte-americano que está entre os compositores mais influentes do final do século XX. A sua música é normalmente chamada de minimalista, embora ele não aprecie esta expressão.

É um compositor muito prolífico tendo produzido inúmeros trabalhos entre óperas, sinfonias, concertos, bandas sonoras para filmes e outros trabalhos em colaboração com outros músicos. Tem dois filhos e atualmente reside no estado de Nova Iorque nos Estados Unidos, e na província da Nova Escócia, no Canadá

     

in Wikipédia

  


domingo, dezembro 12, 2021

O Acordo de Paris (sobre a Mudança do Clima) foi aprovado há seis anos

  
O Acordo de Paris é um tratado no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (CQNUMC), que rege medidas de redução de emissão de gases estufa a partir de 2020, a fim de conter o aquecimento global abaixo de 2 ºC, preferencialmente em 1,5 ºC, e reforçar a capacidade dos países de responder ao desafio, num contexto de desenvolvimento sustentável. O acordo foi negociado em Paris durante a COP21 e aprovado em 12 de dezembro de 2015

 

domingo, janeiro 31, 2021

Philip Glass - 84 anos

  

Philip Morris Glass (Baltimore, 31 de janeiro de 1937) é um compositor norte-americano que está entre os compositores mais influentes do final do século XX. A sua música é normalmente chamada de minimalista, embora ele não aprecie esta expressão.

É um compositor muito prolífico tendo produzido inúmeros trabalhos entre óperas, sinfonias, concertos, bandas sonoras para filmes e outros trabalhos em colaboração com outros músicos. Tem dois filhos e atualmente reside no estado de Nova Iorque nos Estados Unidos, e na província da Nova Escócia, no Canadá

   

in Wikipédia

  


sábado, dezembro 12, 2020

O Acordo de Paris (sobre a Mudança do Clima) foi aprovado há cinco anos

  
O Acordo de Paris é um tratado no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (CQNUMC), que rege medidas de redução de emissão de gases estufa a partir de 2020, a fim de conter o aquecimento global abaixo de 2 ºC, preferencialmente em 1,5 ºC, e reforçar a capacidade dos países de responder ao desafio, num contexto de desenvolvimento sustentável. O acordo foi negociado em Paris durante a COP21 e aprovado em 12 de dezembro de 2015. 

 

in Wikipédia

terça-feira, fevereiro 20, 2018

Há oito anos a incúria humana e um autêntico dilúvio martirizaram a Madeira

Ribeira de Santa Luzia transbordando para a Rua 5 de outubro
  
O temporal na ilha da Madeira em 2010 foi uma sequência de acontecimentos iniciados por forte precipitação durante a madrugada do dia 20 de fevereiro, seguida por uma subida do nível do mar. Estes acontecimentos (conhecidos localmente como aluvião) provocaram inundações e derrocadas ao longo das encostas da ilha, em especial na parte sul.
  
Causas
Na origem do fenómeno esteve um sistema frontal de forte atividade associado a uma depressão que se deslocou a partir dos Açores, segundo o Instituto de Meteorologia. O choque da massa de ar polar com a tropical deu origem a uma superfície frontal, que aliada à elevada temperatura da água do oceano acelerou a condensação, causando uma precipitação extremamente elevada num curto espaço de tempo. A orografia da ilha contribuiu para aumentar os efeitos da catástrofe. É possível que, aliado a valores de precipitação recorde, erros de planeamento urbanístico, tais como o estreitamento de leitos das ribeiras e a construção legal ou ilegal dentro ou muito próximo dos cursos de água, bem como falta de limpeza e acumulação de lixo nos leitos de ribeiras de menor dimensão tenham tornado a situação ainda mais grave.
  
Efeitos
A parte baixa da cidade do Funchal foi inundada e a circulação viária foi impedida por pedras e troncos de árvore arrastados pelas ribeiras de São João, Santa Luzia e João Gomes. Na freguesia do Monte, a capela de Nossa Senhora da Conceição, ao Largo das Babosas, foi levada pela força das águas, junto com algumas das residências vizinhas. Alguns populares conseguiram salvar a imagem da virgem e vários ornamentos.
Atualmente foram confirmados cerca de 47 mortos, 600 desalojados e 250 feridos. O Curral das Freiras esteve acessível, embora com acesso condicionado. A freguesia da Serra de Água, a montante da Ribeira Brava, esteve completamente inacessível. Eram evidentes os sinais de destruição provocados pelas enxurradas, com as zonas altas do concelho do Funchal e, também, no concelho da Ribeira Brava a serem as mais afetadas.
A quantidade de água que caiu no dia 20 de fevereiro de 2010 sobre a Ilha da Madeira, em particular no Pico do Areeiro, foi o valor mais alto jamais registado em Portugal. Neste cume, o segundo mais alto da ilha, foram registados 185 litros por metro quadrado, sendo que os valores mais altos registados em Portugal até à altura não chegavam aos 120. O Funchal, com uma média anual de 750 l/m²,  registou em poucas horas 114 l/m² de precipitação.
  
Salvamento, limpeza e vítimas
O elevado número de vítimas transformou este evento na pior catástrofe da história da Madeira em mais de dois séculos. O governo nacional ponderou decretar estado de emergência. O governo autónomo da região, coordenou os salvamentos e a limpeza e deu abrigo às centenas de desalojados.
Rui Pereira, ministro da Administração Interna de Portugal, enviou à Região equipas de socorro no dia 21, que incluíam seis mergulhadores da Força Especial de Bombeiros, para ajudar na busca de cadáveres perdidos no mar, e cinco médicos do Instituto de Medicina Legal, para auxiliar nas autópsias. Enviou também pontes militares e um corpo de 15 elementos das Forças Armadas Portuguesas, para restabelecer as comunicações viárias nos locais afetados. A fragata Corte-Real chegou à Ilha da Madeira com meios humanos e materiais para auxiliarem nas buscas.
O primeiro-ministro português, José Sócrates, deslocou-se na noite de dia 20 ao Funchal, numa visita de solidariedade. O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, expressou igualmente as suas condolências, visitando a Região no dia 24 de fevereiro de 2010.
O governo português declarou a observância de três dias de luto nacional
  

quinta-feira, dezembro 03, 2015

O Desastre de Bhopal foi há 31 anos

Memorial do desastre de Bhopal

O Desastre de Bhopal foi um acidente industrial que ocorreu na madrugada de 3 de dezembro de 1984, em Bhopal, quando houve uma fuga de 40 toneladas de gases tóxicos na fábrica de pesticidas da empresa norte-americana Union Carbide. É considerado o pior desastre industrial ocorrido até hoje, quando mais de 500 mil pessoas, a sua maioria trabalhadores, foram expostas aos gases. O número total de mortes é controverso: houve num primeiro momento cerca de 3.000 mortes diretas, mas estima-se que outras 10 mil ocorreram, devido a doenças relacionadas com a inalação do gás. A Union Carbide, empresa de pesticidas de origem americana, negou-se a fornecer informações detalhadas sobre a natureza dos contaminantes, e, como consequência, os médicos não tiveram condições de tratar adequadamente os indivíduos expostos. Cerca de 150 mil pessoas ainda sofrem com os efeitos do acidente e aproximadamente 50 mil pessoas estão incapacitadas para o trabalho, devido a problemas de saúde. As crianças que nascem na região, filhos de pessoas afetadas pelos gases, também apresentam problemas de saúde. Mesmo hoje os sobreviventes do desastre e as agências de saúde da Índia ainda não conseguiram obter da Union Carbide e do seu novo dono, Dow Chemicals, informações sobre a composição dos gases que se perderam e os seus efeitos na saúde. Apesar deste quadro absurdo, a fábrica da Union Carbide, em Bhopal, permanece abandonada desde a explosão tóxica, enquanto que resíduos perigosos e materiais contaminados ainda estão espalhados pela área, contaminando solo e águas subterrâneas, dentro e na zona envolvente da antiga fábrica. Hoje sabe-se que o composto químico era o isocianato de metilo. 

quarta-feira, fevereiro 20, 2013

Há três anos a incúria humana e um autêntico dilúvio martirizaram a Madeira

Ribeira de Santa Luzia transbordando para a Rua 5 de Outubro

O temporal na ilha da Madeira em 2010 foi uma sequência de acontecimentos iniciados por forte precipitação durante a madrugada do dia 20 de fevereiro, seguida por uma subida do nível do mar. Estes acontecimentos (conhecidos localmente como aluvião) provocaram inundações e derrocadas ao longo das encostas da ilha, em especial na parte sul.

Causas
Na origem do fenómeno esteve um sistema frontal de forte atividade associado a uma depressão que se deslocou a partir dos Açores, segundo o Instituto de Meteorologia. O choque da massa de ar polar com a tropical deu origem a uma superfície frontal, que aliada à elevada temperatura da água do oceano acelerou a condensação, causando uma precipitação extremamente elevada num curto espaço de tempo. A orografia da ilha contribuiu para aumentar os efeitos da catástrofe. É possível que, aliado a valores de precipitação recorde, erros de planeamento urbanístico, tais como o estreitamento de leitos das ribeiras e a construção legal ou ilegal dentro ou muito próximo dos cursos de água, bem como falta de limpeza e acumulação de lixo nos leitos de ribeiras de menor dimensão tenham tornado a situação ainda mais grave.

Efeitos
A parte baixa da cidade do Funchal foi inundada e a circulação viária foi impedida por pedras e troncos de árvore arrastados pelas ribeiras de São João, Santa Luzia e João Gomes. Na freguesia do Monte, a capela de Nossa Senhora da Conceição, ao Largo das Babosas, foi levada pela força das águas, junto com algumas das residências vizinhas. Alguns populares conseguiram salvar a imagem da virgem e vários ornamentos.
Atualmente foram confirmados cerca de 47 mortos, 600 desalojados e 250 feridos. O Curral das Freiras esteve acessível, embora com acesso condicionado. A freguesia da Serra de Água, a montante da Ribeira Brava, esteve completamente inacessível. Eram evidentes os sinais de destruição provocados pelas enxurradas, com as zonas altas do concelho do Funchal e, também, no concelho da Ribeira Brava a serem as mais afetadas.
A quantidade de água que caiu no dia 20 de fevereiro de 2010 sobre a Ilha da Madeira, em particular no Pico do Areeiro, foi o valor mais alto jamais registado em Portugal. Neste cume, o segundo mais alto da ilha, foram registados 185 litros por metro quadrado, sendo que os valores mais altos registados em Portugal até à altura não chegavam aos 120. O Funchal, com uma média anual de 750 l/m²,  registou em poucas horas 114 l/m² de precipitação.
Salvamento, limpeza e vítimas
O elevado número de vítimas transformou este evento na pior catástrofe da história da Madeira em mais de dois séculos. O governo nacional ponderou decretar estado de emergência. O governo autónomo da região, coordenou os salvamentos e a limpeza e deu abrigo às centenas de desalojados.
Rui Pereira, ministro da Administração Interna de Portugal, enviou à Região equipas de socorro no dia 21, que incluíam seis mergulhadores da Força Especial de Bombeiros, para ajudar na busca de cadáveres perdidos no mar, e cinco médicos do Instituto de Medicina Legal, para auxiliar nas autópsias. Enviou também pontes militares e um corpo de 15 elementos das Forças Armadas Portuguesas, para restabelecer as comunicações viárias nos locais afetados. A fragata Corte-Real chegou à Ilha da Madeira com meios humanos e materiais para auxiliarem nas buscas.
O primeiro-ministro português, José Sócrates, deslocou-se na noite de dia 20 ao Funchal, numa visita de solidariedade. O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, expressou igualmente as suas condolências, visitando a Região no dia 24 de fevereiro de 2010.
O governo português declarou a observância de três dias de luto nacional.
NOTA: quem, como eu, tinha família na Madeira, também passou um mau bocado. Eu tive acesso, porque o meu cunhado esteve na primeira linha da ajuda às populações, a fotos muito impressionantes. Esperemos que os políticos, empresários e legisladores tenham aprendido com a tragédia, para que, da próxima (sim, porque haverá próxima vez...) haja menos mortos e prejuízos...