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terça-feira, fevereiro 27, 2024

Ruy Belo nasceu há 91 anos...

 (imagem daqui)

        
Ruy de Belo (São João da Ribeira, Rio Maior, 27 de fevereiro de 1933 - Queluz, 8 de agosto de 1978) foi um poeta e ensaísta português.
      
Biografia
Em 1951 entrou para a Universidade de Coimbra, como aluno de Direito e tornou-se membro da Opus Dei. Concluiu o curso de Direito em Lisboa, em 1956, ano em que partiu para Roma, doutorando-se em direito canónico pela Universidade S. Tomás de Aquino (Angelicum), dois anos depois, com uma tese intitulada "Ficção Literária e Censura Eclesiástica".
Regressado a Portugal, trabalhou no campo editorial e em 1961 entrou na Faculdade de Letras de Lisboa, recebendo uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian para investigação, abandonou a Opus Dei e foi leitor de Português em Madrid entre 1971 e 1977.
Exerceu, ainda que brevemente, um cargo de diretor-adjunto no então Ministério da Educação Nacional, mas o seu relacionamento com opositores ao regime da época, a participação na greve académica de 1962 e a sua candidatura a deputado, em 1969, pelas listas da Comissão Eleitoral de Unidade Democrática, levaram a que as suas atividades fossem vigiadas e condicionadas. Ocupou, ainda, um lugar de leitor de Português na Universidade de Madrid (1971-1977). Regressado, então, a Portugal, foi-lhe recusada a possibilidade de lecionar na Faculdade de Letras de Lisboa, dando aulas na Escola Técnica do Cacém, no ensino noturno. Em 1991 foi condecorado, a título póstumo, com o grau de Grande Oficial da Ordem Militar de Sant'iago da Espada.
Foi, na sua passagem pela imprensa, diretor literário da Editorial Aster e chefe de redação da revista Rumo, os seus primeiros livros de poesia foram Aquele Grande Rio Eufrates, de 1961, e O Problema da Habitação, de 1962. Às coletâneas de ensaios Poesia Nova, de 1961, e Na Senda da Poesia, de 1969, seguiram-se obras cuja temática se prende com o religioso e o metafísico, sob a forma de interrogações acerca da existência. É o caso de Boca Bilingue, de 1966, Homem de Palavras(s) de 1969, País Possível, de 1973 (antologia), Transporte no Tempo, de 1973, A Margem da Alegria, de 1974, Toda a Terra, de 1976, e Despeço-me da Terra da Alegria, de 1977. O versilibrismo dos seus poemas conjuga-se com um domínio das técnicas poéticas tradicionais. A sua obra, organizada em três volumes sob o título Obra Poética de Ruy Belo, obra publicada em 1981, foi, entretanto, alvo de revisitação crítica, sendo considerada uma das obras cimeiras, apesar da brevidade da vida do poeta, da poesia portuguesa contemporânea.
Apesar do curto período de atividade literária, Ruy Belo tornou-se um dos maiores poetas portugueses da segunda metade do século XX, tendo as suas obras sido reeditadas diversas vezes. Os seus primeiros livros de poesia foram Aquele Grande Rio Eufrates de 1961 e O Problema da Habitação de 1962. Às coletâneas de ensaios Poesia Nova de 1961 e Na Senda da Poesia de 1969, seguiram-se obras cuja temática se prende ao religioso e ao metafísico, sob a forma de interrogações acerca da existência. É o caso de Boca Bilingue de 1966, Homem de Palavra(s) de 1969, País Possível de 1973, antologia), Transporte no Tempo de 1973, A Margem da Alegria de 1974, Toda a Terra de 1976, Despeço-me da Terra da Alegria de 1977 e Homem de Palavra(s), 2ª edição de 1978. O versilibrismo dos seus poemas conjuga-se com um domínio das técnicas poéticas tradicionais. Destacou-se ainda pela tradução de autores como Antoine de Saint-Exupéry, Blaise Cendrars, Raymond Aron, Montesquieu, Jorge Luís Borges e Federico García Lorca. De Antoine de Saint-Exupéry traduz: Piloto de Guerra e Cidadela e Cidadela; Blaise Cendrars traduz: Moravagine; Jorge Luís Borges traduz:Os Poemas Escolhidos e de Dona Rosinha a Solteira ou a Linguagem das Flores.
A sua obra, organizada em três volumes sob o título Obra Poética de Ruy Belo, em 1981, foi, entretanto, alvo de revisitação crítica, sendo considerada uma das obras cimeiras, apesar da brevidade da vida do poeta, da poesia portuguesa contemporânea.
Em 1991 foi condecorado, a título póstumo, com o grau de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'iago da Espada.
     
  in Wikipédia

 

Os pássaros nascem na ponta das árvores

As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros
Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores
Os pássaros começam onde as árvores acabam
Os pássaros fazem cantar as árvores
Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se
deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal
Como pássaros poisam as folhas na terra
quando o outono desce veladamente sobre os campos
Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores
mas deixo essa forma de dizer ao romancista
é complicada e não se dá bem na poesia
não foi ainda isolada da filosofia
Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
Quem é que lá os pendura nos ramos?
De quem é a mão a inúmera mão?
Eu passo e muda-se-me o coração
   

Ruy Belo

quarta-feira, fevereiro 21, 2024

Rui Pregal da Cunha nasceu há sessenta e um anos

(imagem daqui)

 

Rui José Pregal da Cunha (Macau, 21 de fevereiro de 1963) é um músico e cantor português fundador e vocalista da banda Heróis do Mar

 

Biografia

Rui Pregal da Cunha nasceu em Macau, no dia 21 de fevereiro de 1963, vindo viver para Portugal com 4 anos.

Foi fundador e vocalista da banda portuguesa de pop-rock Heróis do Mar. Em conjunto com Paulo Pedro Gonçalves, seu colega na anterior banda, fundou os LX-90 que editaram o álbum 1 Revolução por Minuto. Posteriormente emigraram para Inglaterra e alteraram o nome do grupo para Kick Out of The Jams.

Em finais de 1999 foi um dos participantes no www.invisivel.pt, um álbum de música mas com características multimédia inovadoras inserido no projeto "O Homem Invisível" que contou, entre outros, com Rui Reininho.

Após longa ausência do panorama musical, Rui Pregal da Cunha cantou, em 2010, na canção "Vá Lá Senhora" da banda Os Golpes. Regressou aos concertos ao vivo participando em apresentações de grupos como Os Golpes e Nouvelle Vague.

Trabalhou em publicidade, como produtor executivo de audiovisual e, em 2012, abriu um restaurante ("Can the Can") numa homenagem às conservas nacionais e ao fado.

Em 2013 foi, juntamente com Antony Millard, Pedro Abrunhosa e Victor Varela um dos pilares de Diagnóstico: Dandy, um documentário de Luís Hipólito estreado na RTP2.

Ao longo da década de 2010, foram vários os convites a Rui Pregal da Cunha para parcerias, quer em discos (como Ala dos Namorados, Os Capitães da Areia, ou Rogério Charraz) quer em espetáculos (como Ena Pá 2000, ou Miguel Ângelo).

Em 2014, Rui Pregal da Cunha participou numa homenagem a António Variações, que completaria 70 anos, com uma atuação, a 31 de maio, no festival Rock in Rio Lisboa, juntamente com os Deolinda, os Linda Martini e Gisela João.

Em 2019, foi a voz da canção "Rapazes da Praia", o hino do centenário do Clube de Futebol "Os Belenenses", do qual é adepto.

 

in Wikipédia

 


quarta-feira, novembro 15, 2023

Saudades de El-Rei...

 

El-Rei

Longe da luz
A que sonhou na infância
Em vez de predomínio e de conquista
Sonhos de amor
Entre visões de artista
Morreu de desconsolo e de distância.
 
Caminho aberto
À morte por essa ânsia
Que mais se exalta
Quanto mais contrista
De quem recorda o lar que nunca avista
E se consome em lúcida constância.
 
Porque acima do trono e da realeza
Havia o céu azul, a claridade
Da sua amada Terra Portuguesa
Havia a Pátria, e dizem, que impiedade
Dizem que não se morre de tristeza
Dizem que não se morre de saudade.
 
   
  
Branca Gonta Colaço

segunda-feira, novembro 06, 2023

Hoje é dia de recordar Sophia...

 

Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

  

in
Mar Novo (1958) - Sophia de Mello Breyner Andresen

 

sexta-feira, outubro 20, 2023

Ildo Lobo morreu há dezanove anos...

   

Ildo Lobo (Pedra de Lume, Sal, 25 de novembro de 1953 - Praia, 20 de outubro de 2004) foi um famoso cantor e compositor cabo-verdiano.

A sua voz versátil e melódica e a sua poderosa presença em palco fizeram dele um dos maiores intérpretes de sempre de Cabo Verde. Conhecido desde sempre nas ilhas de Cabo Verde, e desde cedo também em Portugal, pelo seu trabalho na banda Os Tubarões, Ildo Lobo ficou internacionalmente famoso graças ao seu trabalho a solo, registado nos discos Nôs Morna, Intelectual e Incondicional.
 

  


terça-feira, outubro 17, 2023

António Ramos Rosa nasceu há 99 anos...

(imagem daqui)

 

António Vítor Ramos Rosa (Faro, 17 de outubro de 1924Lisboa, 23 de setembro de 2013), foi um poeta, tradutor e desenhador português.

   
Biografia

António Ramos Rosa estudou em Faro, não tendo acabado o ensino secundário por questões de saúde. Em 1958 publica no jornal «A Voz de Loulé» o poema "Os dias, sem matéria". No mesmo ano sai o seu primeiro livro «O Grito Claro», n.º 1 da coleção de poesia «A Palavra», editada em Faro e dirigida pelo seu amigo, e também poeta, Casimiro de Brito. Ainda nesse ano inicia a publicação da revista «Cadernos do Meio-Dia», que em 1960 encerra a edição, por ordem da polícia política.
Foi um dos fundadores da revista de poesia Árvore, existente entre 1951 e 1953, e fez parte do MUD Juvenil.
A 10 de junho de 1992 foi feito Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e a 9 de junho de 1997 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.
O seu nome foi dado à Biblioteca Municipal de Faro. Em 2003, a Universidade do Algarve, atribui-lhe o grau de Doutor Honoris Causa.

   

 

A Partir da Ausência 

Imaginar a forma
doutro ser Na língua,
proferir o seu desejo
O toque inteiro

Não existir

Se o digo acendo os filamentos
desta nocturna lâmpada
A pedra toco do silêncio densa
Os veios de um sangue escuro

Um muro vivo preso a mil raízes

Mas não o vinho límpido
de um corpo
A lucidez da terra
E se respiro a boca não atinge
a nudez una
onde começo

Era com o sol E era
um corpo

Onde agora a mão se perde
E era o espaço

Onde não é

O que resta do corpo?
Uma matéria negra e fria?
Um hausto de desejo
retém ainda o calor de uma sílaba?

As palavras soçobram rente ao muro
A terra sopra outros vocábulos nus
Entre os ossos e as ervas,
uma outra mão ténue
refaz o rosto escuro
doutro poema
    


in A Nuvem Sobre a Página (1978) - António Ramos Rosa

domingo, agosto 27, 2023

Sodade...

 

Sodade - Cesária Évora
Armando Zeferino Soares

Quem mostra' bo
Ess caminho longe?
Ess caminho
Pa Sã Tomé

Sodade sodade sodade
Dess nha terra d’Sã Nicolau

Si bô 'screvê' me
'M ta 'screvê be
Si bô 'squecê me
'M ta 'squecê be

Até dia
Qui bô voltá

Sodade sodade sodade
dess nha terra d'São Nicolau.



NOTA: tradução do criolo caboverdeano para português:

Saudade - Cesária Évora

Quem te indicou
Esse caminho longínquo?
Esse caminho
Para São Tomé
  
Saudade
Da minha terra de São Nicolau
  
Se me escreveres
Eu escrever-te-ei
Se me esqueceres
Eu te esquecerei
   
Até ao dia
Que tu voltares
 
Saudade
Da minha terra de São Nicolau
 

 

Cesária Évora nasceu há oitenta e dois anos...

 

Cesária Évora (Mindelo, 27 de agosto de 1941 - Mindelo, 17 de dezembro de 2011) foi a cantora de maior reconhecimento internacional de toda a história da música popular cabo-verdiana. Apesar de ser sucedida em diversos outros géneros musicais, Cesária Évora esteve intimamente ligada com a morna, por isso era apelidada de "rainha da morna". Era conhecida como a diva dos pés descalços.

  

 


domingo, julho 02, 2023

Música adequada para recordar um Português num dia triste...

 

EL-REI

Longe da luz
A que sonhou na infância
Em vez de predomínio e de conquista
Sonhos de amor
Entre visões de artista
Morreu de desconsolo e de distância.
 
Caminho aberto
À morte por essa ânsia
Que mais se exalta
Quanto mais contrista
De quem recorda o lar que nunca avista
E se consome em lúcida constância.
 
Porque acima do trono e da realeza
Havia o céu azul, a claridade
Da sua amada Terra Portuguesa
Havia a Pátria, e dizem, que impiedade
Dizem que não se morre de tristeza
Dizem que não se morre de saudade.
 
  
    
Branca Gonta Colaço

domingo, junho 04, 2023

Jorge de Sena morreu há quarenta e cinco anos...

(imagem daqui)
     
Jorge Cândido Alves Rodrigues Telles Grilo Raposo de Abreu de Sena (Lisboa, 2 de novembro de 1919 - Santa Barbara, Califórnia, 4 de junho de 1978) foi poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário português.
 
Primeiros anos
Filho único de Augusto Raposo de Sena, natural de Ponta Delgada e comandante da marinha mercante, e de Maria da Luz Teles Grilo de Sena, natural da Covilhã e dona-de-casa. Ambas as famílias eram da alta burguesia, a paterna de suposta linhagem aristocrática de militares e altos funcionários, e a materna de comerciantes ricos do Porto. Segundo relata no seu conto Homenagem ao Papagaio Verde, teve uma infância recolhida, solitária e infeliz, o que fez com se tornasse introspetivo, observador e imaginativo.
Fez a instrução primária e os primeiros anos do liceu no Colégio Vasco da Gama. Concluiu os estudos secundários no Liceu Camões, onde foi aluno de Rómulo de Carvalho. Era um jovem que lia avidamente, tocava piano e escrevia poemas. Na Faculdade de Ciências de Lisboa, fez os exames preparatórios com as notas mais elevadas.

Na Escola Naval
Sena nutria a ideia algo romântica de se tornar oficial da marinha, seguindo as pisadas do pai. Em 1938, aos 17 anos, entrou para a Escola Naval como 1º do seu curso. A 2 de outubro de 1937, iniciou a sua viagem de instrução a bordo do navio-escola Sagres. Visitou os portos de S. Vicente, Santos, Lobito, Luanda, S. Tomé e Dakar, chegando a Lisboa no final de fevereiro de 1938. O contacto com a imensidão do oceano, a azáfama da vida a bordo e o movimento e mudança constantes agradaram ao jovem Sena, mas nem tudo correu bem. Segundo o relato de um antigo camarada de curso, naquele ano a viagem de instrução foi excecional e particularmente dura e exigente em termos de preparação e destreza física, copiando o modelo da marinha alemã. Na parte teórica do curso Sena era brilhante, mas em termos atléticos era medíocre e apesar dos muitos esforços que fez não conseguiu satisfazer as elevadas expectativas do comandante do curso, que parecia nutrir um ódio de estimação pelo cadete contemplativo e intelectual. No final da viagem, foi comunicado a Sena que iria ser proposta a sua exclusão da Marinha por lhe faltarem as "necessárias qualidades" para oficial. Sena ficou profundamente frustrado e desgostoso com esta rejeição e o seu afastamento definitivo de um modo de vida que tanto almejava.

Engenharia civil, casamento e primeiras obras
Apesar da sua inclinação natural para a literatura, o sobredotado Sena decidiu frequentar o curso de Engenharia Civil, iniciando-o em Lisboa e concluindo-o no Porto, em 1944, com a ajuda financeira dos seus amigos Ruy Cinatti e José Blanc de Portugal. O curso pouco o entusiasmou, mas durante todo esse tempo escreveu bastantes poemas, artigos, ensaios e cartas. Desde os 16 anos que escrevia e em 1940, sob o pseudónimo de Teles de Abreu, publicou os seus primeiros poemas na revista Cadernos de Poesia, dirigida por Cinatti, Blanc de Portugal e Tomás Kim. Em 1942, publica o seu primeiro livro de poemas, Perseguição, que não impressiona muito o seu amigo e crítico João Gaspar Simões e Adolfo Casais Monteiro considera-o um livro revelador mas difícil.
Em 1947, Sena inicia a sua carreira de engenheiro, que durou 14 anos. Trabalhou como engenheiro civil na Câmara Municipal de Lisboa, na Direcção-Geral dos Serviços de Urbanização e na Junta Autónoma das Estradas (JAE), onde permanecerá até ao seu exílio para o Brasil em 1959.
Em 1940, no Porto, Jorge de Sena conhece e torna-se amigo de Maria Mécia de Freitas Lopes (irmã do crítico e historiador literário Óscar Lopes), começando a namorar em 1944 e casando-se em 1949. Jorge de Sena e Mécia de Sena tiveram nove filhos. Mécia, sua incansável companheira e enérgica colaboradora, apoiando o escritor nas inúmeras crises que lhe surgiram ao longo de uma vida por vezes atribulada.
Trabalhava incansavelmente, para sustentar a crescente família. Além do seu absorvente trabalho diurno na JAE (que lhe possibilitou viajar e conhecer o Portugal profundo), Sena também se dedicava à direção literária em editoras, à tradução e revisão de textos, ocupações que lhe roubavam precioso tempo para a investigação literária e a para a sua obra. A banalidade e a pequenez do quotidiano no Portugal de Salazar das décadas de 1940 e 1950 atormentam-no, bem assim como a mediocridade, a mesquinhez e a intriga dos meios literários, a opressão política, a censura literária, resultando num ambiente de trabalho sufocante e absolutamente frustrante, mas que não deixam de o inspirar para o poema É tarde, muito tarde na noite…
Durante esses anos publica várias obras: O Dogma da Trindade Poética – Rimbaud (1942), Coroa da Terra, poesia (1946), Páginas de Doutrina Estética de Fernando Pessoa (organização), 1946, Florbela Espanca (1947), Pedra Filosofal poesia (1950), A Poesia de Camões (1951), etc. Colabora na revista Mundo literário (1946-1948) com contos e poesia e também como crítico artístico na rúbrica cinema.

Exílio no Brasil
A sua situação como escritor e cidadão estava a tornar-se insustentável. Como escritor, não tinha tempo livre para escrever, apenas o podia fazer de modo insuficiente e limitado à noite e aos domingos. Também o facto de não pertencer a nenhum círculo académico e a falta de apoio institucional lhe frustrava qualquer pretensão de poder vir a editar alguma obra mais ambiciosa. Por outro lado, a sua participação numa tentativa revolucionária abortada em 12 de março de 1959, colocou-o em posição de prisão iminente, no caso muito provável de algum dos conspiradores presos pela PIDE denunciar os que ainda se encontravam livres.
Em agosto de 1959, viajou até ao Brasil, convidado pela Universidade da Bahia e pelo Governo Brasileiro a participar no IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros. Tendo sido convidado como catedrático contratado de Teoria da Literatura, em Assis, no Estado de S. Paulo, aproveitou essa oportunidade e aceitou o lugar, iniciando assim o seu longo exílio. Ele faz amizade com o poeta Jaime Montestrela, que dedicou o seu livro Cidade de lama. Por motivos profissionais teve de adotar a cidadania brasileira.
Não foi contudo um exílio libertador. Sentia saudades da pátria, apesar do rancor perene que nutria pela pequenez, mesquinhez e falta de reconhecimento nacionais que o atormentariam até ao final da vida.
Em 1961, Jorge de Sena foi ensinar Literatura Portuguesa na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara. Em 1964, depois de vencer alguns preconceitos académicos pelo facto de ser licenciado em Engenharia, Jorge de Sena defendeu a sua tese de doutoramento em Letras (Os Sonetos de Camões e o Soneto Quinhentista Peninsular), tendo obtido os títulos académicos "com distinção e louvor".
O período de seis anos que passou no Brasil foi muito produtivo. Finalmente, tinha toda a disponibilidade para se dedicar à sua obra com a devida profundidade e profissionalismo. Poesia, teatro, ficção, ensaísmo e investigação. Parte do romance Sinais de Fogo e a totalidade dos contos Novas Andanças do Demónio foram escritos neste período.

Estados Unidos e últimos anos
A degradação da situação política no Brasil, com a instalação de uma ditadura militar a partir de março de 1964, fez com que Jorge de Sena, mais do que nunca avesso a prepotências, aceitasse um convite para ensinar Literatura de Língua Portuguesa na Universidade de Wisconsin, para partir para os Estados Unidos em outubro de 1965. Em 1967 foi nomeado catedrático do Departamento de Espanhol e Português da referida universidade.
De 1970 até 1978 foi catedrático efetivo de Literatura Comparada na Universidade da Califórnia, em Santa Barbara. Apesar da satisfação de ensinar e da amizade que os alunos lhe dedicavam, Sena não foi feliz. Queixava-se da "medonha solidão intelectual da América" onde não havia "convívio intelectual algum" e da esterilidade e espírito burguês do meio académico, que não se interessava pela sua obra.
Quando se deu o 25 de Abril Jorge de Sena ficou entusiasmado e queria regressar definitivamente a Portugal, ansioso de dar a sua colaboração para a construção da democracia. Sena visitou Portugal, contudo, nenhuma universidade ou instituição cultural portuguesa se dignou convidar o escritor para qualquer cargo que fosse, facto que muito o desiludiu e amargurou, decidindo continuar a viver nos Estados Unidos, onde tinha a sua carreira estabelecida.
Jorge de Sena morreu em 4 de Junho de 1978, aos 58 anos, de cancro. Em 11 de setembro de 2009, os seus restos mortais foram trasladados de Santa Barbara, Califórnia, para o cemitério do Prazeres em Lisboa, depois de uma cerimónia de homenagem na Basílica da Estrela, com a presença de familiares, amigos e entidades oficiais.

Obra
Foi um dos mais influentes intelectuais portugueses do século XX, com vasta obra de ficção, drama, ensaio e poesia, além de importante epistolografia com figuras tutelares da literatura portuguesa e brasileira. A sua obra de ficção mais famosa é o romance autobiográfico Sinais de Fogo, adaptado ao cinema em 1995 por Luís Filipe Rocha. Grande parte da sua obra foi publicada postumamente pelos cuidados da viúva, Mécia de Sena.

Poesia
  • Perseguição (1942)
  • Coroa da Terra (1946)
  • Pedra Filosofal (1950)
  • As Evidências (1955)
  • Fidelidade (1958)
  • Metamorfoses (1963)
  • Arte de Música (1968)
  • Peregrinatio ad Loca Infecta (1969)
  • Exorcismos (1972)
  • Conheço o Sal e Outros Poemas (1974)
  • Sobre Esta Praia (1977)
  • Quarenta Anos de Servidão (1979, póstumo)
  • Dedicácias (1980, póstumo)
  • Sequências (1980, póstumo)
  • Visão Perpétua (1982, póstumo)
  • Post-Scriptum I (1985, póstumo)
  • Post-Scriptum II (1985, póstumo)
  • Poesia I (1977)
  • Poesia II (1978)
  • Poesia III (1978)
Ficção
Drama
  • O Indesejado (1951)
  • Ulisseia Adúltera (1952)
  • O Banquete de Dionísos (1969)
  • Epimeteu ou o Homem Que Pensava Depois (1971)
Ensaios
  • Da Poesia Portuguesa (1959)
  • O Poeta é um Fingidor (1961)
  • O Reino da Estupidez (1961)
  • Uma Canção de Camões (1966)
  • Os Sonetos de Camões e o Soneto Quinhentista Peninsular (1969)
  • A Estrutura de Os Lusíadas e Outros Estudos Camonianos e de Poesia Peninsular do Século XVI (1970)
  • Maquiavel e Outros Estudos (1973)
  • Dialécticas Aplicadas da Literatura (1978)
  • Fernando Pessoa & Cia. Heterónima (1982, póstumo)
Correspondências com

Prémios
Recebeu o Prémio Internacional de Poesia Etna-Taormina, pelo conjunto da sua obra poética, e foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique, por serviços prestados à comunidade portuguesa. Recebeu, postumamente, a Grã-Cruz da Ordem de Sant'iago. Em 1980, foi inaugurado o Jorge de Sena Center for Portuguese Studies, na Universidade da Califórnia, em Santa Barbara.

 

 

Cessação


Quando a morte vier, ou procurada
eu a tiver comigo apenas por um instante,
qual já nem for amante
a esperança conseguida à liberdade,
então do nada que a existência invade
alguma dor virá de não ter dito
que a vida eu sofria como um rito
do Sol de outras manhãs. Expatriada?


Não. Que só a morte nunca existirá.
Sonharei - sonhará,
na treva, a cantiga:
Que luz não amiga
a treva será?


Nem longe, nem perto;
nem riso decerto.
Apenas um rumor de madrugada.
 


in Coroa da Terra (1946) - Jorge de Sena

terça-feira, novembro 15, 2022

D. Manuel II, o nosso último Rei, nasceu há 133 anos

     
D. Manuel II de Portugal, de nome completo: Manuel Maria Filipe Carlos Amélio Luís Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis Eugénio de Bragança Orleães Sabóia e Saxe-Coburgo-Gotha, (15 de novembro de 1889 - 2 de julho de 1932) foi o trigésimo-quinto e, até agora, último Rei de Portugal. D. Manuel II sucedeu ao seu pai, o Rei D. Carlos I, depois do assassinato deste e do seu irmão mais velho, o Príncipe Real D. Luís Filipe, a 1 de fevereiro de 1908. Antes da sua ascensão ao trono, D. Manuel foi duque de Beja e Infante de Portugal.
  
D. Manuel II nasceu no Palácio de Belém, em Lisboa, cerca de um mês depois da subida de seu pai ao trono de Portugal. Baptizado alguns dias depois, no mesmo Paço de Belém, teve por padrinho o avô materno, o Conde de Paris, tendo participado na cerimónia o imperador do Brasil, D. Pedro II, deposto do seu trono exatamente no mesmo dia do seu nascimento. D. Manuel recebeu à nascença os títulos reais de Infante de Portugal e de Duque de Beja.
Teve o tratamento e a educação tradicionais dos filhos dos monarcas da sua época, embora sem preocupações políticas, dado ser o filho segundo do rei e, como tal, não esperar um dia vir a ser rei. Como tal, é de notar que durante a infância e juventude posava para os fotógrafos com uma atitude mais altiva que o irmão. Este divertia-se com os tiques snobes do irmão mais novo, embora sempre tenham sido bons amigos. Paradoxalmente, depois de subir inesperadamente ao trono, D. Manuel teve uma atitude oposta, afastando-se regularmente dos costumes protocolares: foi o primeiro rei de Portugal a não dar a mão a beijar ao dignitários durante a cerimónia anual do Beija-mão Real, a 1 de janeiro.
Aos seis anos já falava e escrevia em francês. Estudou línguas, história e música (tendo como professor Alexandre Rey Colaço). Desde cedo se mostrou a sua inclinação pelos livros e pelo estudo, contrastando com o seu irmão, D. Luís Filipe, mais dado a atividades físicas. Viajou em 1903 com a mãe, a Rainha Amélia de Orleães, e o irmão, ao Egito, no iate real Amélia, aprofundando assim os seus conhecimentos das civilizações antigas. Em 1907 iniciou os seus estudos de preparação para ingresso na Escola Naval, preparando-se para seguir carreira na Marinha.
    

  

Saudades de El-Rei...

 

El-Rei

Longe da luz
A que sonhou na infância
Em vez de predomínio e de conquista
Sonhos de amor
Entre visões de artista
Morreu de desconsolo e de distância.
 
Caminho aberto
À morte por essa ânsia
Que mais se exalta
Quanto mais contrista
De quem recorda o lar que nunca avista
E se consome em lúcida constância.
 
Porque acima do trono e da realeza
Havia o céu azul, a claridade
Da sua amada Terra Portuguesa
Havia a Pátria, e dizem, que impiedade
Dizem que não se morre de tristeza
Dizem que não se morre de saudade.
   
  
Branca Gonta Colaço

 

domingo, novembro 06, 2022

Saudades de Sophia...

 

Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

  

in
Mar Novo (1958) - Sophia de Mello Breyner Andresen

 

quinta-feira, outubro 20, 2022

Ildo Lobo morreu há dezoito anos...

  
Ildo Lobo (Pedra de Lume, Sal, 25 de novembro de 1953 - Praia, 20 de outubro de 2004) foi um famoso cantor e compositor cabo-verdiano.
A sua voz versátil e melódica e a sua poderosa presença em palco fizeram dele um dos maiores intérpretes de sempre de Cabo Verde. Conhecido desde sempre nas ilhas de Cabo Verde, e desde cedo também em Portugal, pelo seu trabalho na banda Os Tubarões, Ildo Lobo ficou internacionalmente famoso graças ao seu trabalho a solo, registado nos discos Nôs Morna, Intelectual e Incondicional.

 


sábado, agosto 27, 2022

Cesária Évora nasceu há oitenta e um anos...

 

Cesária Évora (Mindelo, 27 de agosto de 1941 - Mindelo, 17 de dezembro de 2011) foi a cantora de maior reconhecimento internacional de toda a história da música popular cabo-verdiana. Apesar de ser sucedida em diversos outros géneros musicais, Cesária Évora esteve intimamente ligada com a morna, por isso era apelidada de "rainha da morna". Era conhecida como a diva dos pés descalços.

  

   


   

Sodade - Cesária Évora
Armando Zeferino Soares

Quem mostra' bo
Ess caminho longe?
Ess caminho
Pa Sã Tomé

Sodade sodade sodade
Dess nha terra d’Sã Nicolau

Si bô 'screvê' me
'M ta 'screvê be
Si bô 'squecê me
'M ta 'squecê be

Até dia
Qui bô voltá

Sodade sodade sodade
dess nha terra d'São Nicolau.



NOTA: tradução do criolo caboverdeano para português:

Saudade - Cesária Évora

Quem te indicou
Esse caminho longínquo?
Esse caminho
Para São Tomé
  
Saudade
Da minha terra de São Nicolau
  
Se me escreveres
Eu escrever-te-ei
Se me esqueceres
Eu te esquecerei
   
Até ao dia
Que tu voltares
 
Saudade
Da minha terra de São Nicolau
 

sábado, julho 02, 2022

Música adequada para um dia triste...


EL-REI

Longe da luz
A que sonhou na infância
Em vez de predomínio e de conquista
Sonhos de amor
Entre visões de artista
Morreu de desconsolo e de distância.
 
Caminho aberto
À morte por essa ânsia
Que mais se exalta
Quanto mais contrista
De quem recorda o lar que nunca avista
E se consome em lúcida constância.
 
Porque acima do trono e da realeza
Havia o céu azul, a claridade
Da sua amada Terra Portuguesa
Havia a Pátria, e dizem, que impiedade
Dizem que não se morre de tristeza
Dizem que não se morre de saudade.
 
  
    
Branca Gonta Colaço

segunda-feira, novembro 15, 2021

Saudades de um grande Português...

 

El-Rei

Longe da luz
A que sonhou na infância
Em vez de predomínio e de conquista
Sonhos de amor
Entre visões de artista
Morreu de desconsolo e de distância.
 
Caminho aberto
À morte por essa ânsia
Que mais se exalta
Quanto mais contrista
De quem recorda o lar que nunca avista
E se consome em lúcida constância.
 
Porque acima do trono e da realeza
Havia o céu azul, a claridade
Da sua amada Terra Portuguesa
Havia a Pátria, e dizem, que impiedade
Dizem que não se morre de tristeza
Dizem que não se morre de saudade.
   
  
Branca Gonta Colaço

 

sábado, novembro 06, 2021

Porque os outros se mascaram mas tu não - saudades de Sophia...

 

Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

  

in
Mar Novo (1958) - Sophia de Mello Breyner Andresen

quarta-feira, outubro 20, 2021

Ildo Lobo morreu há dezassete anos...

  
Ildo Lobo (Pedra de Lume, Sal, 25 de novembro de 1953 - Praia, 20 de outubro de 2004) foi um famoso cantor e compositor cabo-verdiano.
A sua voz versátil e melódica e a sua poderosa presença em palco fizeram dele um dos maiores intérpretes de sempre de Cabo Verde. Conhecido desde sempre nas ilhas de Cabo Verde, e desde cedo também em Portugal, pelo seu trabalho na banda Os Tubarões, Ildo Lobo ficou internacionalmente famoso graças ao seu trabalho a solo, registado nos discos Nôs Morna, Intelectual e Incondicional.

 


sexta-feira, agosto 27, 2021

Cesária Évora nasceu há oitenta anos...

 

 

Cesária Évora (Mindelo, 27 de agosto de 1941 - Mindelo, 17 de dezembro de 2011) foi a cantora de maior reconhecimento internacional de toda a história da música popular cabo-verdiana. Apesar de ser sucedida em diversos outros géneros musicais, Cesária Évora foi maioritariamente relacionada com a morna, por isso também apelidada de "rainha da morna". Era conhecida como a diva dos pés descalços.

  
 
 
Sodade - Cesária Évora
Armando Zeferino Soares

Quem mostra' bo
Ess caminho longe?
Ess caminho
Pa Sã Tomé

Sodade sodade sodade
Dess nha terra d’Sã Nicolau

Si bô 'screvê' me
'M ta 'screvê be
Si bô 'squecê me
'M ta 'squecê be

Até dia
Qui bô voltá

Sodade sodade sodade
dess nha terra d'São Nicolau.



NOTA: tradução do criolo caboverdeano para português:

Saudade - Cesária Évora

Quem te indicou
Esse caminho longínquo?
Esse caminho
Para São Tomé
  
Saudade
Da minha terra de São Nicolau
  
Se me escreveres
Eu escrever-te-ei
Se me esqueceres
Eu te esquecerei
   
Até ao dia
Que tu voltares
 
Saudade
Da minha terra de São Nicolau