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domingo, novembro 19, 2023

A tectónica de placas mata...

Um novo “supercontinente” pode dizimar todos os mamíferos (incluindo os humanos)

   

 

  

Os mamíferos existem em quase todos os principais habitats terrestres, pelo que é difícil imaginar um mundo sem a sua presença. Contudo, um novo estudo prevê que a formação de um novo “supercontinente” vai acabar por determinar o fim da vida na Terra.

A nova investigação, levada a cabo por cientistas da Universidade de Bristol, concluiu que a formação de um novo “supercontinente” poderá extinguir todos os mamíferos (incluindo os seres humanos) dentro de 250 milhões de anos.

“A formação e a decomposição da Pangeia Ultima [nome dado ao potencial supercontinente] limitarão e acabarão com a habitabilidade dos mamíferos terrestres na Terra, ao excederem as suas tolerâncias térmicas milhares de milhões de anos mais cedo do que se supunha”, escreveram os investigadores, citados pelo Science Alert.

Os especialistas sabem muito pouco sobre o que acontece ao clima do planeta quando os seus continentes se agregam numa grande massa de terra. Por esse motivo, nesta investigação, basearam-se no último supercontinente da Terra, a Pangeia, que surgiu há 310 milhões de anos, para prever o que acontecerá durante a formação do próximo supercontinente.

Os resultados sugerem que o clima irá tornar-se insuportavelmente quente: o Sol irá emitir cerca de 2,5% mais radiação e a formação do supercontinente alterará drasticamente o sistema climático global, podendo secar grandes extensões de terra e reter mais dióxido de carbono na atmosfera.

Durante o período da primeira Pangeia, os níveis de dióxido de carbono atmosférico subiram de cerca de 200 partes por milhão para 2.100 ppm, um fenómeno que originou temperaturas extremas cerca de 10°C superiores à média global atual.

Sendo que os atuais níveis de dióxido de carbono atmosférico situam-se em cerca de 416 ppm em relação aos níveis pré-industriais, no futuro, se o dióxido de carbono atmosférico voltar a ultrapassar os 560 ppm, mesmo que seja apenas durante um século, poderá provocar um fenómeno de extinção em massa.

Os modelos sugerem que é provável que tal aconteça quando a Pangea Ultima se formar, uma vez que as placas tectónicas criam feedbacks climáticos e sistemas meteorológicos alterados. Ou seja, se for transportada menos água doce para as regiões do interior, por exemplo, as florestas poderão secar e os depósitos de carbono do interior poderão transformar-se em torneiras de carbono.

No pior cenário, os investigadores preveem que a Pangea Ultima poderá originar uma temperatura média mensal de 46,5°C. Tendo em conta o stress térmico dos mamíferos, estas temperaturas serão provavelmente proibitivas para a grande maioria das espécies conhecidas.

“Embora não possamos descartar a adaptação evolutiva ao stress do calor e do frio, estudos recentes mostraram que os limites superiores de termotolerância dos mamíferos são conservados ao longo do tempo geológico e não aumentaram durante os eventos de aquecimento rápidos ou mais lentos do passado”, lê-se no estudo.

No fundo, e tendo em conta este contexto histórico, há poucas hipóteses de os mamíferos evoluírem suficientemente depressa para fazer face ao próximo supercontinente da Terra.

O artigo científico foi recentemente publicado na revista Nature Geoscience.

 

in ZAP

domingo, novembro 10, 2013

Paleontologia e monotrematos - afinal havia outro(s)...

Como um único dente revela a existência do maior ornitorrinco do mundo

Reconstituição de como seria o maior ornitorrinco

O primeiro dente molar do novo ornitorrinco

Descoberta na Austrália contraria ideias anteriores sobre a árvore evolutiva das espécies deste mamífero.

O envio de um exemplar de ornitorrinco da Austrália para o Reino Unido em 1798 suscitou muitas dúvidas nos cientistas acerca da veracidade do espécime. Parecia-lhes uma montagem de um bico de pato num corpo semelhante ao de um castor. Apesar de a classificação do ornitorrinco como um mamífero já não causar dúvidas científicas, os seus hábitos actuais e os seus antepassados extintos continuam a despertar o interesse dos cientistas, como aconteceu com a descoberta do fóssil do maior ornitorrinco do mundo.
O Ornithorhynchus anatinus é a única espécie de ornitorrinco ainda viva. As características quase antagónicas deste grupo – corpo coberto de pêlo, reprodução por ovos, alimentação das crias com leite mas sem mamilos, bico semelhante ao de uma ave, e esporões que produzem veneno nas patas traseiras dos machos – têm fascinado os cientistas desde que foi descoberto.
De facto, a descodificação do genoma do Ornithorhynchus anatinus revelou que este animal australiano apresenta genes parecidos com os de outros mamíferos, mas também com os de répteis e de aves. 
Descrita na revista Journal of Vertebrate Paleontology, a nova espécie de ornitorrinco Obdurodon tharalkooschild foi encontrada na jazida de Riversleigh (Austrália). Tem cinco a 15 milhões de anos e poderá ter coexistido com a espécie Obdurodon dicksoni, mostrando que a família dos ornitorrincos não tem um único ramo, como inicialmente se pensava. Assim, a sua árvore evolutiva teve pelo menos uma ramificação e terá sido a partir da linhagem do Obdurodon dicksoni que surgiram aos ornitorrincos actuais.
“A descoberta desta nova espécie foi surpreendente para nós, porque o registo fóssil sugeria que a árvore evolutiva dos ornitorrincos era relativamente linear”, afirma Michael Archer, da Universidade da Nova Gales do Sul, na Austrália, citado num comunicado de imprensa.
Esta nova espécie foi descrita com base num único dente. Mesmo assim, a equipa considerou que este fóssil era suficiente para revelar aspectos importantes deste animal. Por um lado, tinha dentes, tal como as outras duas espécies conhecidas do género Obdurodon (o O. dicksoni e o O. insignis), ao contrário dos ornitorrincos modernos. Por outro lado, teria um metro de comprimento, o dobro dos actuais ornitorrincos.
   
O ornitorrinco mais antigo é sul-americano
Todos os fósseis de ornitorrincos encontrados anteriormente indicavam que o tamanho destes animais e dos seus dentes teriam vindo a diminuir desde o Monotrematum sudamericanum, um ornitorrinco sul-americano, com 61 milhões de anos, o mais antigo que se conhece. Actualmente, os dentes são apenas vestigiais.
Além disso, as características dos molares de todos os ornitorrincos conhecidos até agora eram semelhantes, o que indicava uma linha evolutiva única, sem ramificações. Agora, a nova espécie, que é mais recente e maior do que o Monotrematum sudamericanum, vem baralhar a árvore evolutiva, tendo em conta as características únicas do seu molar.
Tal como os restantes ornitorrincos, o Obdurodon tharalkooschil” seria principalmente aquático, refere Suzanne Hand, também da Universidade da Nova Gales do Sul. “Provavelmente, alimentava-se não só de lagostins e de outros crustáceos de água doce, mas também de pequenos vertebrados como peixes pulmonados, rãs e tartarugas, que foram encontrados na mesma jazida.” Esta alimentação é evidenciada pelo tipo de dente encontrado, mais adequado para esmagar do que para cortar as presas.
O nome escolhido para esta espécie – tharalkooschild – baseia-se numa história aborígene sobre a origem do ornitorrinco. Tharalkoo era uma jovem pata desobediente. Apesar dos avisos dos seus pais, nadou rio abaixo e foi apanhada por Bigoon, um macho de ratazana-de-água. Tharalkoo conseguiu escapar e voltar para juntos dos seus pais, mas do seu ovo, em vez de nascer um patinho fofo, surgiu uma quimera com bico, pêlo, membranas digitais nas patas traseiras e patas dianteiras como as dos ratos. Nascia assim o primeiro ornitorrinco.

in Público - ler notícia

quarta-feira, agosto 14, 2013

Notícia sobre novos dados da origem dos mamíferos...

Dois novos fósseis lançam mais confusão sobre o aparecimento dos mamíferos

Eram pequenos, um vivia no chão, o outro nas árvores. Estavam separados por alguns quilómetros e cinco milhões de anos, no tempo dos dinossauros.

Representação do Megaconus mammaliaformis
  
O fóssil de Megaconus mammaliaformis dos dois lados
 
Representação de Arboroharamiya jenkinsi

Há 65 milhões de anos, no final do Cretácico, um cataclismo livrou a Terra dos dinossauros e deu aos mamíferos a oportunidade de prosperarem. Rapidamente, estes pequenos animais ocuparam muitos nichos que então ficaram livres. Desta forma, este grupo, do qual o homem descende, divergiu e acabou por evoluir nas formas que hoje conhecemos. Cem milhões de anos antes, em pleno parque Jurássico, os mamíferos já existiam mas não é unânime há quanto tempo tinham aparecido. A descoberta agora de dois fósseis de espécies diferentes, mas aparentadas, de animais que morreram entre há 165 e 160 milhões de anos veio lançar ainda mais confusão.
Uma das espécies, mais primitiva, sugere que os mamíferos tinham acabado de aparecer. Outra tem características morfológicas mais evoluídas e sugere que o aparecimento dos mamíferos deu-se 215 milhões de anos, ainda durante o Triásico. Um comentário da edição desta quarta-feira na Nature aos dois artigos, publicados também nesta revista, defende que será preciso esperar pela descoberta de novos fósseis para tentar destrinçar este paradoxo paleontológico, que está ligado às nossas origens mais remotas.
Depois do fim dos dinossauros e em relativamente poucos milhões de anos, os mamíferos ocuparam o mar, a terra e o ar. Há animais com trombas, longos pescoços, membranas aladas ou barbatanas. Há mamíferos adaptados a viver nas árvores e outros que ficaram cegos por se manterem uma vida inteira debaixo de terra, como algumas espécies de toupeiras. Os marsupiais têm uma bolsa na barriga, onde se dá parte do desenvolvimento das crias, e algumas espécies como o ornitorrinco põem ovos. A divergência é muita, portanto.
Mas os fósseis têm mostrado que há 165 milhões de anos, quando os dinossauros reinavam na Terra, havia ainda outros grupos que, se não eram mamíferos, tinham pelo menos características anatómicas que associamos a esta classe. Grupos, esses, que entretanto se extinguiram. O Arboroharamiya jenkinsi e o Megaconus mammaliaformis, as duas espécies agora descobertas, faziam parte da ordem Haramiyida – um dos grupos que existiu nessa época ancestral e confusa da evolução dos mamíferos e que, entretanto, não sobreviveu ao tempo.
Ainda não se sabe se os Haramiyida eram mamíferos ou apenas partilhavam características desta classe de animais. Aliás, estas duas descobertas vêm pôr mais lenha na fogueira desta discussão e de toda a origem dos mamíferos. O Megaconus mammaliaformis, descoberto pela equipa de Zhe-Xi Luo, da Universidade de Chicago, viveu entre há 165 e 164 milhões de anos no que é hoje o interior da região da Mongólia Interior, no Nordeste da China.
    
No chão…
O Megaconus seria do tamanho de um grande esquilo e vivia ao nível do chão. O fóssil está bastante bem preservado e mostra que este animal tinha pêlos por todo o corpo, menos na barriga. Os dentes indicam que era omnívoro, já que estavam adaptados a mastigar plantas, mas também insectos e minhocas, e talvez outros pequenos vertebrados.
Esta espécie tinha os três ossos que nos mamíferos servem para ouvir, mas neste animal os ossos ainda estavam ligadas à mandíbula, o que já não acontece nos mamíferos. Por outro lado, o osso do tornozelo é semelhante ao do tornozelo de outros animais pré-mamíferos. Estas são características consideradas primitivas colocam, segundo os autores, os Haramiyida fora do grupo dos mamíferos e levam à equipa a concluir os mamíferos teriam então de ter evoluído mais recentemente.
Mas a sul do local onde se encontrou o fóssil do Megaconus mammaliaformis, na continuação da mesma formação geológica mas já na província chinesa de Shandong, a equipa de Xiaoli Wang, da Academia de Ciências Chinesa, descobriu um fóssil de outra espécie classificada também como Haramiyida. Mas as características deste outro fóssil obrigaram a equipa a desenhar outra árvore evolutiva dos mamíferos.
  
…E nas árvores
O Arboroharamiya jenkinsi vivia nas árvores há 160 milhões de anos. Pesaria cerca de 354 gramas, teria uma pequena cabeça e seria herbívoro ou omnívoro. Os ossos do ouvido deste pequeno animal estão dispostos como os dos mamíferos. Ora de acordo com esta e outras características, a equipa de Xiaoli Wang coloca os Haramiyida dentro dos mamíferos, onde estão os placentários, os marsupiais, os monotrématos como o ornitorrinco, e os multituberculados, outro grupo que já desapareceu.
A inclusão dos Haramiyida nos mamíferos “implica que estes tenham surgido há pelo menos 215 milhões de anos – uma data muito mais antiga do que muitos paleontólogos aceitam, mas que que está de acordo com uma estimativa recente”, escrevem Richard Cifelli, do Museu de História Natural de Oklahoma, e Brian Davi, da Universidade de Louisville, no Kentucky, Estados Unidos, num comentário na Nature. Para apresentar aquelas características dos mamíferos, o antepassado do Arboroharamiya jenkinsi e de todos os outros mamíferos teve de ter surgido muitos milhões de anos antes.
Richard Cifelli e Brian Davi consideram que estas duas alternativas obrigam a novas interpretação sobre a história inicial e as adaptações mais importantes que determinaram o aparecimento dos mamíferos. “Mas, em última análise, serão necessários mais e melhores fósseis para refinar o conhecimento sobre a divergência das espécies no início da evolução dos mamíferos”, conclui o comentário.
 
in Público - ler notícia

sábado, fevereiro 09, 2013

Notícia sobre antepassado comum a todos os mamíferos placentários

Este poderá ter sido o antepassado comum a quase todos os mamíferos

Visão de artista do hipotético antepassado da maioria dos mamíferos

Ao combinar uma enorme massa de dados genéticos e anatómicos, foi possível descrever e datar o "pai" de todos os mamíferos placentários - dos roedores aos elefantes, dos mamíferos marinhos aos humanos.

Um bichinho pouco maior do que um ratinho, focinho em ponta, dentes afiados, pêlo castanho-acinzentado, cauda longa e peluda. Pesa menos de meio quilo e alimenta-se de insectos. Desloca-se agilmente de um lado para outro. Viveu há uns 65 milhões de anos, depois de os dinossauros terrestres e os grandes répteis terem sido varridos da face da Terra.

Não é totalmente seguro que tenha sido esse o seu aspecto e comportamento exactos: ninguém até aqui encontrou os seus restos fósseis. Mas um estudo de uma equipa internacional, hoje publicado na revista Science, conclui que o antepassado comum às cerca de 5100 espécies de mamíferos que povoam o nosso planeta - e cujas fêmeas geram a sua prole dentro do útero, numa placenta - era muito provavelmente parecido com este animalzinho.

Um grupo de 23 investigadores - do Museu Carnegie de História Natural (EUA), do Museu Americano de História Natural (EUA), de várias universidades norte-americanas e de uma universidade canadiana - finalizou um projecto iniciado há seis anos (e financiado pela National Science Foundation dos EUA) designado ATOL (Assembling the Tree of Life). O trabalho é o primeiro a combinar, em grande escala, dados vindos da análise ao ADN de uma série de espécies vivas de mamíferos ditos "placentários" com dados morfológicos de espécies vivas e extintas do mesmo tipo de mamíferos. Os mamíferos placentários vão dos roedores aos elefantes, das baleias aos gatos, aos cães e aos humanos. Trata-se de facto de todas as espécies de mamíferos, excepto os marsupiais (cangurus) e um punhado de espécies que põem ovos (como o ornitorrinco).

Para além de conferir um rosto possível ao nosso longínquo antepassado primordial, os resultados hoje revelados poderão pôr fim a um debate que dura há décadas: o de saber quando é que os mamíferos conquistaram a Terra. Será que a sua "explosiva" diversificação e expansão foram desencadeadas, há menos de 65 milhões de anos, pelo facto de os dinossauros - juntamente com 70% das outras espécies - terem desaparecido na sequência da colisão de um meteorito ou de um cometa com a Terra, deixando livre um importante nicho ecológico? Ou será que, tal como estipula uma teoria concorrente, a explosão evolutiva dos mamíferos aconteceu, pelo contrário, muito antes do fim dos dinossauros e dos répteis gigantes, devido à fragmentação de um hipotético supercontinente, baptizado Gondwana, que se pensa terá dado origem aos actuais continentes e subcontinentes austrais (América do Sul, Índia, Austrália e Antártida)?

Os novos resultados abonam a favor da primeira opção. Sugerem fortemente que, se um cataclismo cósmico não tivesse dado o "golpe de graça" aos tiranossauros, diplodocos e outros ferozes gigantes, há pouco mais 66 milhões de anos (como indica a mais recente e precisa datação desse evento, anunciada na mesma edição da Science - ver caixa), poderíamos não estar aqui para contar a história.

O problema com o ADN

A partir dos anos 1990, a genética permitiu estruturar a genealogia das espécies ao nível molecular. Só que os resultados das análises de ADN contradiziam as datações obtidas a partir do registo fóssil, fazendo aparentemente recuar, em dezenas de milhões de anos, o início da expansão dos mamíferos.

A questão é que o ADN sozinho não chega para reconstituir a história das espécies, tal como as provas genéticas forenses não chegam para resolver um crime. "Desvendar a árvore da vida é como juntar os elementos encontrados na cena de um crime", diz Maureen O"Leary, da Universidade de Stony Brook (EUA) e líder da equipa, em comunicado do Museu Americano da História Natural. "As ferramentas genéticas acrescentam informações importantes, mas também são precisos outros indícios físicos - um cadáver, por exemplo. E nas ciências da vida, são precisos fósseis e dados anatómicos. É a combinação de todos esses dados que produz a reconstituição mais informada do passado." Foi essa integração dos dois tipos de atributos, genéticos e físicos, que a equipa fez com um nível de pormenor sem precedente.

Outros estudos já tinham associado a genética dos animais a várias centenas de características morfológicas, explica um comunicado do Museu Carnegie. Mas desta vez, graças a uma aplicação Web chamada MorphoBank, acessível em www.morphobank.org, os cientistas puderam cruzar a genética com milhares de elementos multimédia (imagens, descrições, dados quantitativos, etc.) relativos uns 4500 traços físicos de cerca de 85 espécies de mamíferos placentários. "Olhámos para todos os aspectos da anatomia dos mamíferos, do crânio ao esqueleto passando pelos dentes, os órgãos internos, os músculos e até os padrões da pelagem", diz o co-autor John Wible, do Museu Carnegie.

A nova árvore da vida é a mais completa de sempre. E mostra que os mamíferos placentários surgiram rapidamente a seguir à extinção dos dinossauros, 200 mil a 400 mil anos depois do cataclismo que acabou com eles. "A nossa estimativa temporal é cerca de 36 milhões de anos mais tardia do que a estimativa puramente baseada nos dados genéticos", diz Marcelo Weksler, co-autor actualmente na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, isto sugere que a fragmentação do Gondwana não teve nada a ver com a expansão dos mamíferos. E foi também com base nos novos resultados que um artista pintou o retrato do nosso hipotético antepassado.

CAIXA - A morte caiu do céu

Cientistas norte-americanos, holandeses e britânicos recalcularam as datas da extinção dos dinossauros e do impacto do asteróide ou cometa que deixou uma cratera de quase 180 quilómetros de diâmetro ao largo da costa de Iucatão, no México. E concluem hoje na revista Science que os dois acontecimentos - a extinção definitiva dos dinossauros, assinalada nos sedimentos fósseis, e a queda de um objecto cósmico com 10 quilómetros de diâmetro - foram simultâneos. Estudos anteriores sugeriam que essa extinção maciça de espécies tinha acontecido uns 300 mil anos antes do cataclismo. Mas os novos cálculos, que recorreram a técnicas de datação de alta precisão, permitiram reduzir essa diferença para apenas 33 mil anos, tornando as duas datas praticamente idênticas.
O impacto aconteceu há 66.038.000 anos - e foi o "golpe de graça" para os grandes dinossauros terrestres e muitas criaturas marinhas, diz Paul Renne, co-autor, em comunicado da Universidade da Califórnia. "O impacto foi claramente a última gota, empurrando a Terra para um ponto sem retorno. Portanto, teve um papel decisivo nas extinções", salienta.
Porém, Renne adverte que "esse não terá sido o único factor". O clima global já vinha sofrendo variações drásticas há um milhão de anos, o que colocara muitas espécies à beira da extinção. "Isso tornou o ecossistema muito mais sensível a mudanças relativamente pequenas, que noutras circunstâncias teriam tido um impacto menor." 

in Público - ler notícia

quarta-feira, agosto 08, 2012

O geólogo que deu o nome a dois dos mais famosos dinossáurios nasceu há 155 anos

Era um especialista em mamíferos fósseis. Ele descobriu e nomeou os famosos Tyrannosaurus rex em 1905 e Velociraptor em 1924.


NOTA: para os entusiastas de dinossáurios, como um que tenho em minha casa, uma imagem (impossível porque as duas espécies não viveram, por poucos milhões de anos, na mesma altura) do T. rex e Velociraptor, roubada do merchandising do filme Parque Jurássico I (embora o animal no filme se pareça mais com um Deinonychus...):

(imagem daqui)

sexta-feira, agosto 26, 2011

Nós, os mamíferos placentários, somos mais velhos do que pensávamos

Descoberto na China
"Juramaia sinensis" é o mais antigo fóssil de mamífero com placenta

Mark A. Klinger/Museu de História Natural Carnegie

Tinha apenas 15 a 17 gramas, viveu há 160 milhões de anos e era muito parecido com os murganhos de hoje. Eis o fóssil mais antigo de um mamífero placentário, que foi descoberto na Província de Liaoning, na China, e é revelado ao mundo na última edição da revista “Nature”.

A equipa do paleontólogo Zhe-Xi Luo, do Museu de História Natural Carnegie, em Pittsburgh, nos Estados Unidos, deu ao animal o nome científico “Juramaia sinensis”, que significa “mãe jurássica da China”.

Esta descoberta revela que a separação entre os mamíferos placentários e os metatérios, que têm nos mamíferos marsupiais os seus descendentes actuais, ocorreu 35 milhões de anos mais cedo do que se pensava até agora.

O “Juramaia sinensis” retira assim o recorde do mamífero com placenta mais antigo ao “Eomaia”, com 125 milhões de anos, descrito em 2002 também por Zhe-Xi e John Wible, igualmente do Museu de História Natural Carnegie. Em Portugal, nas minas da Guimarota, perto de Leiria, encontrou-se, em 1976, o primeiro esqueleto de um mamífero do Jurássico, também do tamanho de um ratinho, o que as tornou desde então mundialmente conhecidas.

“Com 160 milhões de anos, o ‘Juramaia’ é a tia-bisavó ou a bisavó de todos os mamíferos placentários que prosperam hoje”, realçou Zhe-Xi, num comunicado do museu.

Além do crânio ou da impressão dos pêlos, o novo fóssil preservou aspectos importantes que permitiram à equipa perceber que estava na presença de um mamífero com placenta (ou eutério). É o caso dos dentes e das garras das patas dianteiras.

“Os dentes do ‘Juramaia’ têm todas as características típicas nos dentes dos eutérios. Especificamente, os eutérios têm três molares e cinco pré-molares, o que contrasta com os metatérios, caracterizados por quatro molares e três pré-molares”, explicou Zhe-Xi, citado pela BBC online. “Além disso, os ossos das patas da frente e dos pulsos têm características dos eutérios e não apresentam nenhuma dos metatérios.”

Cerca de 90 por cento dos mamíferos da Terra têm placenta, pelo que a descoberta do seu antepassado mais antigo até agora é mais uma peça para compreender a história da sua evolução. Ou os seus modos de vida iniciais: neste caso, o “Juramaia” gostava muito de trepar às árvores. “A estrutura das suas mãos sugere que era capaz de trepar. Por isso, interpretamo-lo como mamífero insectívoro trepador de árvores que caçava insectos para viver”, refere Zhe-Xi. 

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terça-feira, junho 15, 2010

Quando a natureza imita a arte

Paleontologia
Descobertos pêlos de mamífero conservados em âmbar com 100 milhões de anos

 Um pêlo com 100 milhões de anos (Romain Vullo)


Os pêlos de mamífero a três dimensões mais antigos foram encontrados num fóssil de âmbar. Com 100 milhões de anos, estes pêlos pertenceram a uma espécie que viveu ao lado dos dinossauros.


A descoberta foi feita no sudoeste de França, no âmbar, juntamente com os pêlos, ficou também preservado uma pupa de moscas. O âmbar foi produzido no período Cretácico, que decorreu entre os 145 milhões de anos e 65 milhões de anos, quando os dinossauros foram pulverizados da Terra.

Conhecem-se pêlos fossilizados do Jurássico, o período anterior. “Temos impressões de pêlo a duas dimensões, tão antigas como o Jurássico Médio”, disse citado pela BBC News Romain Vullo, da Universidade de Rennes, em França, que estudou os pêlos. “No entanto, os pêlos carbonizados dão muito menos informação sobre a estrutura do que os pêlos a três dimensões, preservados em âmbar”, explicou Vullo.

Os fragmentos são mínimos, um tem 2,4 milímetros de comprimento e 32 até 48 micrómetros de largura. O outro tem 0,6 milímetros de comprimento e 49 a 78 micrómetros de largura.

Segundo o investigador este é o fóssil de pêlo mais antigo em que se pode observar a estrutura cuticular – a parte mais externa dos pêlos feito de células mortas. A estrutura é parecida com os pêlos dos mamíferos de hoje, mas a identidade do animal ainda é desconhecida.

Quatro dentes do mamífero marsupial conhecido Arcantiodelphys foram encontrados no mesmo local. “A hipótese mais parcimoniosa é considerar que os pêlos no âmbar pertencem a este animal ou a uma espécie parecida”, disse o investigador.

Existem três hipóteses que podem explicar a forma como os pêlos ficaram agarrados à resina que depois fossilizou em âmbar. Ou a resina caiu em cima do animal morto, e a pupa é o resultado de ovos que foram postos na carcaça. Ou o animal encostou-se à resina quando estava a passar e os pêlos ficaram agarrados ao material. A terceira hipótese é o animal ter-se aproximado da árvore para alimentar-se de insectos que estavam presos na resina.

sexta-feira, janeiro 29, 2010

Encontrado sinapsídeo moçambicano

Expedição de dois cientistas portugueses à zona do lago Niassa

Fóssil de antepassado comum a todos os mamíferos descoberto em Moçambique

O fóssil, agora nos EUA, voltará ao país de origem, ao Museu Nacional de Geologia

Ricardo Araújo e Rui Castanhinha partiram numa aventura a Moçambique, no Verão passado, com uma ideia fixa: encontrar o primeiro dinossauro daquele país. Saiu-lhes na rifa algo ainda mais antigo e raro, que agora revelaram: o fóssil de um antepassado comum a todos os mamíferos, com 250 milhões de anos, quando ainda faltavam 30 milhões de anos para aparecerem os primeiros dinossauros.

Tanto Ricardo Araújo (24 anos) como Rui Castanhinha (27 anos) estavam prestes a entrar numa nova fase da vida. O primeiro ia começar o mestrado em paleontologia na Universidade Metodista do Sul, no Texas (Estados Unidos); o segundo, o doutoramento no Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras. Estavam ambos a colaborar, tal como agora, com o paleontólogo Octávio Mateus, do Museu da Lourinhã, e antes da nova fase nada melhor do que uma expedição científica em África. “Eu e o Rui tínhamos decidido cometermos a loucura de partir para Moçambique para descobrir o primeiro dinossauro do país”, conta Ricardo Araújo.

Tal significava ir em prospecção num local com fósseis com mais de 65 milhões de anos, a altura em que os dinossauros se extinguiram. “Até agora, existe apenas um local em Moçambique com fósseis de vertebrados com mais de 65 milhões de anos: esse local é naquilo a que os geólogos chamam o Graben de Metangula [bacia que resultou da actividade tectónica], mesmo ao lado do lago Niassa.”

Rui Castanhinha teve de voltar a Portugal, mas o amigo continuou a viagem, só com um motorista e um guia local. “Tínhamos uma semana pela frente e os resultados até à data não eram animadores. Não tínhamos descoberto mais do que uns troncos [de árvores] fossilizados. Os dias foram-se passando e a minha frustração ia-se tornando mais palpável. Tinha de garantir o sucesso mínimo da expedição, nem que fosse um fragmento de osso convincente.”

E eis que os seus desejos se concretizaram. “Praticamente no último dia, depois de quase toda a região batida a pé, encontro finalmente no chão uma série de concreções [nódulos] calcárias, daquelas em que sabia que há fósseis”, lembra Ricardo Araújo. “Lá estava ele: um crânio completo de um ancestral comum a todos os mamíferos. Olhei primeiro para uma característica do crânio, sem me aperceber que tinha um esqueleto praticamente completo nas mãos.”

Ontem, a edição portuguesa da revista “National Geographic” assinalou a descoberta numa pequena notícia.

É um réptil mamaliano, com uns meros 15 centímetros de comprimento, que se encontrava enrolado sobre ele próprio e encarcerado na rocha esférica. “O esqueleto estar quase completo é relativamente único. Não há assim tantos fósseis de répteis mamalianos”, frisa Octávio Mateus. “Quando comparados com os dinossauros, os fósseis de répteis mamalianos são raros”, diz também Rui Castanhinha.

Tal como outros répteis mamalianos, este tem uma mistura de características anatómicas de réptil e mamífero. Deles surgiriam os mamíferos, que, até à extinção dos dinossauros, não passavam de animais do tamanho de ratinhos. Com o fim dos dinossauros, os mamíferos começaram a assumir uma variedade de formas e tamanhos.

Sem uma análise mais profunda do fóssil de Moçambique, ainda a ser limpo dos sedimentos nos EUA, a equipa apenas pode dizer pertence aos sinapsídeos, grupo de vertebrados terrestres de que fazem parte, entre outros, os mamíferos. Não quer dizer que o fóssil de Moçambique, em concreto, tenha dado origem aos mamíferos.

Mas o facto de ter sido encontrado o crânio com o resto do esqueleto pode ajudar a desvendar um pouco mais a história evolutiva dos mamíferos. “Ainda não sabemos se será uma espécie nova, será certamente um espécime importante”, diz Ricardo Araújo, que destaca ainda o seu tamanho diminuto: “O que poderá indicar que ou era uma espécie muito pequena, ou era um jovem sinapsídeo passeando pelo Niassa há 250 milhões de anos.”