quinta-feira, junho 19, 2008

Faz hoje 55 anos


No passado 19 de Junho de 1953
19.06.2008

O veredicto tinha sido declarado dois anos antes, após um julgamento que durara apenas 23 dias. A 5 de Abril de 1951, o juiz Irving R. Kaufman tinha sentenciado à morte o casal Julius e Ethel Rosenberg, considerando-os "culpados de conspiração e de espionagem" e de terem "atraiçoado" os Estados Unidos e, mesmo, terem "alterado o curso da História". A execução aconteceu ao pôr-do-sol de 19 de Junho de 1953, na prisão de alta segurança de Sing-Sing, em Nova Iorque. Durante o julgamento, o casal e os seus advogados afirmaram repetidamente a sua inocência, considerando-se "vítimas da histeria política" que se vivia nesses tempos de Guerra Fria mas Julius e Ethel Rosenberg tornaram-se nas duas únicas pessoas executadas na América durante a Guerra Fria por acusação de espionagem, num processo que viria a dar exemplo e pretexto à cruzada da "Caça às Bruxas", logo a seguir dirigida pelo senador McCarthy. O processo dos Rosenberg, assumidos militantes comunistas, e que o tribunal declarou serem também espiões a favor da URSS, teve como motivo a transmissão de segredos de Estado aos soviéticos relativos ao famoso Projecto Manhattan, que nomeava os planos atómicos americanos, no decorrer da 2ª Guerra Mundial. O irmão de Ethel, David Greenglass, trabalhou nesse projecto a partir de 1944, e acabaria por ser ele a denunciar o seu cunhado como espião.


in Público - link não disponível



NOTA: Como bom português que pretendo ser, não poderia deixar passar esta data, pois sou, naturalmente, agora e sempre, anti-pena-de-morte...

segunda-feira, junho 16, 2008

Sopa de Pedra

Já que estamos (e estaremos, por motivos que brevemente aqui revelaremos...) numa de Açores, aqui fica outro post de um célebre Blog terceirense de um professor da Universidade dos Açores, o Desambientado:


Gosto muito de pedras.
Prefiro-as no meu caminho
Do que dentro dos sapatos.
Haverá desimpedimentos,
Sem aborrecimentos?

Gosto muito de areia;
Debaixo dos meus pés
E fora dos meus olhos.

Prefiro a subtileza,

Á falta de clareza.


Gosto muito de calçadas,
Descalças de preconceito,
Onde se anda sempre a eito.


Gosto muito de bordões,
Que nos apoiam, proféticos,
Nos desequilíbrios éticos.


Gosto muito, muito, muito…
Das pedras do meu mundo,
Porque se um homem é pó,
Uma pedra quer dizer
Que depois de aqui viver,
Vai voltar-se a agrupar,
Numa rocha sedimentar,
Que marcará o seu lugar.


Félix Rodrigues

A evolução dos cones vulcânicos surtsianos

Do Blog GEOCRUSOE, que nos merece uma leitura atenta pelo menos uma vez por semana, publicamos o seguinte post:


No Faial surgem esporadicamente preocupações pelo facto do mar, vento e chuva estarem a destruir o edifício da erupção dos Capelinhos, propondo a plantação de espécies vegetais capazes de impedir tal erosão.

Efectivamente, nas erupções basálticas em mar pouco profundo e onde este entra dentro da chaminé vulcânica, designadas de erupções do tipo surtsiano (surtseiano), dão-se grandes explosões, devido ao contacto da lava quente com a água fria. O que origina cones sobretudo de grãos da dimensão das areias e outros maiores e inicialmente soltos: devido à intensa fragmentação do material assim expelido.


O vulcão dos Capelinhos durante um período de actividade eruptiva do tipo surtsiano, os jactos negro são grãos que construíram o cone


[Foto publicada em: Machado, F. e Forjaz, V. H. - in Actividade Vulcânica do Faial - 1957-67 (1968) Ed. Com. Reg. Turismo Distrito da Horta]


As "areias" acumuladas durante a actividade surtsiana são conhecidas por cinzas vulcânicas - cientificamente o nome é complexo: hialopiroclastitos (sensivelmente significa: fragmentos vítreos formados pelo fogo) - e dão origem a cones fáceis de destruir pelo mar, vento e chuva. Nos Capelinhos, dos mais de 2 km quadrados iniciais, hoje resta talvez menos de 1.


Mas com o tempo, as mesmas chuvas, sais e seres vivos cimentam os grãos, transformando-os naquilo que as pessoas chamam de tufo vulcânico e a erosão passa a ser muito mais lenta. Então a superfície cobre-se de vegetação e quase nem vemos que a destruição continua.


Infelizmente e ao longo de milhares de anos, os grandes edifícios surtsianos continuam a reduzir em tamanho, o mar abre brechas e a erosão intensifica-se ligeiramente.


Então, com o passar dos anos, talvez outros milhares, os grande cones passam a pequenos ilhéus, parecem recifes... até ao dia em que desaparecem no mar como baixios e tornam-se em montes submarinos.

Todos os Faialenses gostam da estrutura construída pelos Capelinhos, interferir artificialmente com a evolução das coisas pode ser tentador, mas a longo prazo não resulta. A Natureza fez o mundo assim e para quem sabe olhar a beleza da Terra, verifica que esta constrói-se com as suas Regras Naturais.

domingo, junho 15, 2008

Poesia

Meditação

Quedei-me no silêncio
Das minhas mágoas
E fiquei prostrado
A ouvi-las.
Levanto-me em silêncio
E comigo trago-as
Sob um sol apagado
...A(s)sumi-las.


in Eu e o Outro, Adelino (1998)

Nascer

Nando

Aqui estou, mundo desconhecido.
Grito, a todos os pulmões, a minha presença.
Sei que sou fruto do Amor de meus Pais,
que estou aqui para algum fim.

Mas tudo é estranho e desconhecido.
Frio.
Seco.
Talvez me habitue.
Talvez se habituem a mim...

Obrigado.


Pedro Luna - poema inédito

O meu dia de anos

Faço hoje 41 anos. Eu, que quase partilhei a data com Fernando Pessoa (e com o dia da morte de Santo António) queria deixar aqui um seu poema, retirado de um interessantíssimo site brasileiro:
http://www.pessoa.art.br/


Aniversário

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa como uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar pela vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim mesmo,
O que fui de coração e parentesco,
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui – ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui…
A que distância!…
(Nem o acho…)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes…
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio…

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim…
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui…
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas – doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado –,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!…

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!…



Álvaro de Campos - Poemas

Poesia de Fernando Pessoa

Gládio

Deus-me Deus o seu gládio, porque eu faça
.....A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em génio e em desgraça,
As horas em que um frio vento passa
.....Por sobre a fria terra.

Pôs-me as mãos sobre o ombros, e doirou-me
.....A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer-justiça são Seu nome
....Dentro em mim a vibrar.

E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
.....Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois venha, o que vier, nunca será
.....Maior do que a minha alma!


Ataca, n° 3, 1934, pp. 81
Fernando Pessoa - Poemas Ocultistas (21.07.1913)

Mensagem - Fernando Pessoa

I - Os campos
Primeira Parte | Brasão
Primeiro - O dos Castelos

A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.

O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.

Fita, com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal.


08.12.1928

Fernando Pessoa - Mensagem

Fernando Pessoa - Ode de Ricardo Reis

Do Que Quero

Do que quero renego, se o querê-lo
Me pesa na vontade. Nada que haja
Vale que lhe concedamos
Uma atenção que doa.
Meu balde exponho à chuva, por ter água.
Minha vontade, assim, ao mundo exponho,
Recebo o que me é dado,
E o que falta não quero.

O que me é dado quero
Depois de dado, grato.

Nem quero mais que o dado
Ou que o tido desejo.


Ricardo Reis - Odes

Fernando Pessoa - poesia de Álvaro de Campos

Ridículas


Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos),
São naturalmente
Ridículas.)


Álvaro de Campos (21.10.1935)

Fernando Pessoa - poesia de Alberto Caeiro

I

Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr do Sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
É se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.
Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.
Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.
Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.
E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),
É só porque sinto o que escrevo ao pôr do Sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.
Quando me sento a escrever versos
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte de mim
No cimo dum outeiro,
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas ideias,
Ou olhando para as minhas ideias e vendo o meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz
E quer fingir que compreende.
Saúdo todos os que me lerem,
Tirando-lhes o chapéu largo
Quando me vêem à minha porta
Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.
Saúdo-os e desejo-lhes sol,
E chuva, quando a chuva é precisa,
E que as suas casas tenham
Ao pé duma janela aberta
Uma cadeira predilecta
Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou qualquer cousa natural –
Por exemplo, a árvore antiga
À sombra da qual quando crianças
Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
E limpavam o suor da testa quente
Com a manga do bibe riscado.

Alberto Caeiro - O Guardador de Rebanhos (08.03.1914)

Poesia de Fernando Pessoa

Desenho retirado daqui

Teus Olhos Entristecem


Teus olhos entristecem.
Nem ouves o que digo.
Dormem, sonham esquecem...
Não me ouves, e prossigo.

Digo o que já, de triste,
Te disse tanta vez...
Creio que nunca o ouviste
De tão tua que és.

Olhas-me de repente
De um distante impreciso
Com um olhar ausente.
Começas um sorriso.

Continuo a falar.
Continuas ouvindo
O que estás a pensar,
Já quase não sorrindo.

Até que neste ocioso
Sumir da tarde fútil,
Se esfolha silencioso
O teu sorriso inútil.


Fernando Pessoa - Cancioneiro (19.10.1935)

Torga e Pessoa II

Vila Nova, 3 de Dezembro de 1935

Morreu Fernando Pessoa. Mal acabei de ler a notícia no jornal, fechei a porta do consultório e meti-me pelos montes a cabo. Fui chorar com os pinheiros e com as fragas a morte do nosso maior poeta de hoje, que Portugal viu passar num caixão para a eternidade sem ao menos perguntar quem era.

in Diário I - Miguel Torga

Torga e Pessoa

Carta a Miguel Torga


Lisboa, 6 de Junho de 1930.


Meu prezado Camarada:

Muito agradeço o exemplar do seu livro "Rampa". Recebi-o já há alguns dias. Só hoje posso escrever para lho agradecer. Li-o, porém, logo que o recebi.

Li-o e gostei dele. A sua sensibilidade é de tipo igual à do José Régio – é confundida, em si mesma, com a inteligência. O que em si é ainda por aperfeiçoar é o modo de fazer uso dessa sensibilidade. Há que separar mais os dois elementos, que naturalmente a compõem; ou que confundi-los ainda mais. Uma análise instintiva que coloque a sensibilidade desintelectualizada perante a inteligência dessensibilizada, em contraste, diálogo e reparo; ou uma síntese em que desapareçam os traços de haver dois.

Não creio impossível que qualquer, ou ambos, destes processos sejam por si atingidos num futuro próximo da sua consciência de si mesmo.

Intelectualmente – e portanto artisticamente – falando (a arte não é mais que uma manifestação distraída da inteligência), a sensibilidade é o inimigo. Não o inimigo que se nos opõe, como na guerra, mas o inimigo a quem nos opomos, como no amor. Há que vencer, pois, não por esmagamento, mas por sedução ou domínio. Chamar a sensibilidade para dentro da casa da inteligência; ou fazer a inteligência montar casa externa à sensibilidade. Imagens? Como o universo... Mas, em suma, gostei do seu livro, e por ele o felicito.

Com a melhor camaradagem e apreço

Fernando Pessoa

sábado, junho 14, 2008

Sismo no Japão - notícia no Público

Japão: três mortos, 65 feridos e 12 desaparecidos em sismo de 7.2 na escala de Richter
14.06.2008 - 11h06 AFP

Um violento sismo que atingiu os 7.2 na escala de Richter abalou hoje o norte do Japão matando pelo menos três pessoas e causando ferimentos a 65. Pelo menos outras 12 pessoas estão desaparecidas. O abalo provocou ainda deslizamentos de terra, o desabamento de alguns edifícios e a destruição de estradas.

O sismo ocorreu às 08h43 locais (00h43 em Lisboa), a dez quilómetros de profundidade, atingindo as zonas de Iwate e de Miyagi (nordeste), a cerca de 500 quilómetros de Tóquio, onde também foi sentido.

O primeiro balanço oficial dá conta de três mortos: um pescador de 55 anos, arrastado por um deslizamento de terras, um sexagenário atropelado por um camião e um trabalhador de 48 anos que ficou esmagado debaixo de pedras nas obras de um estaleiro.

Cerca de 12 pessoas continuam desaparecidas em Kurihara (prefeitura de Miyagi): três trabalhadores, nos escombros de um estaleiro e nove pessoas num hotel termal atingido por um deslizamento de terras.

A agência nacional de desastres já fez igualmente saber que o número de feridos chega aos 65, ao passo que os media japoneses indicam que poderão ser mais de cem.

Cerca de 30 mil casas em redor do epicentro do sismo ficaram sem electricidade.

O último abalo sísmico ocorrido no Japão ocorreu a 16 de Julho de 2007 em Niigata (centro), com uma magnitude de 6.8, provocando a morte a 11 pessoas e ferimentos a perto de mil.


in Público - ler notícia

Sismos - notícia antiga no Ciência Hoje

Sismo como o de 1755 causaria 3 mil mortos e 27 mil desalojados no Algarve

2008-02-20



Terramoto teve epicentro no banco de Gorringe

Um sismo com a mesma magnitude do registado em 1755 causaria hoje no Algarve três mil mortos e 27.000 desalojados, segundo resultados preliminares do Estudo do Risco Sísmico e de Tsunamis para o Algarve (ERSA).

Os progressos do estudo, que vai estar pronto no final de 2008 e permitir elaborar um plano de emergência detalhado para cada município algarvio, foram hoje apresentados em Faro numa cerimónia presidida pelo ministro da Administração Interna.


Se o sismo de 1755 - com epicentro no Banco de Gorringe e uma magnitude de 8,5 graus na Escala de Richter - se repetisse hoje, causaria danos sobretudo no Barlavento, mais próximo do epicentro. Este foi um dos cenários sísmicos apresentados hoje por Carlos Sousa Oliveira, professor do Instituto Superior Técnico (IST) e consultor da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), que frisou tratarem-se de "resultados preliminares".
Outro dos cenários avançados, tendo por base as características do sismo de 1722 - com epicentro em Tavira e magnitude de 7,8 graus na Escala de Richter -, aponta para uma estimativa de 12.000 mortos e 18.000 edifícios destruídos, com o Sotavento a ser mais afectado. Contudo, segundo o professor do IST, o número de mortes imediatas só poderá ser diminuído quando se trabalhar na prevenção, sendo que o estudo que está a ser desenvolvido permitirá fomentar acções preventivas.

"Temos de olhar para o problema sísmico de uma maneira preventiva, tal como na Medicina, em que apanhamos vacinas para não deixar entrar vírus ou bactérias", observou, dizendo que a principal preocupação são os equipamentos de saúde e escolas. "Não podemos imaginar que há um sismo que vem destruir hospitais e escolas, esta será uma primeira linha de prevenção e de reforço", disse, acrescentando que já estão a ser feitos levantamentos.

Testado no terreno em 2009

Segundo disse aos jornalistas a directora nacional de Planeamento de Emergência, Susana Silva, o plano de emergência decorrente do estudo estará igualmente pronto no final do ano e será testado no terreno em 2009. De acordo com aquela responsável, o principal objectivo do plano é conseguir que as diferentes entidades se articulem para dar resposta nas primeiras 72 horas, sobretudo aos feridos mais graves.

Susana Silva realçou ainda que de acordo com as experiências que recolheu de outros países, nas primeiras horas "é muito difícil as pessoas organizarem-se na própria região", pelo que a ajuda tem que vir de distritos ou até países vizinhos. No que respeita às consequências de um tsunami (maremoto) no Algarve, o estudo está a incidir sobretudo nas zonas da costa identificadas como mais vulneráveis, nomeadamente Sagres, Lagos, Armação de Pêra e Quarteira.

Com uma população residente de 400 mil pessoas, o Algarve tem 60 mil edifícios e 277 mil alojamentos, dos quais 70 mil são em betão armado, 50 mil em alvenaria com pavimento em placa, 23 mil em alvenaria de pedra e 15 mil em alvenaria, precisa o estudo.


in jornal on-line Ciência Hoje - ler notícia

sexta-feira, junho 13, 2008

Parabéns a Fernando Pessoa, com os cumprimentos da TV Globo

Aqui está o primeiro programa da série sobre o poeta fingidor feito pela TV Globo brasileira. O repórter Claufe Rodrigues foi a Lisboa mostrar que Fernando Pessoa tornou-se um ícone pop mundial, um dos maiores do século XX.

quinta-feira, junho 12, 2008

Gedeão e Portugal

Lancei ao mar um madeiro,
espetei-lhe um pau e um lençol.
Com palpite marinheiro
medi a altura do sol.

Deu-me o vento de feição,
levou-me ao cabo do mundo.
Pelote de vagabundo,
rebotalho de gibão.

Dormi no dorso das vagas,
pasmei na orla das praias,
arreneguei, roguei pragas,
mordi peloiros e zagaias.

Chamusquei o pêlo hirsuto,
tive o corpo em chagas vivas,
estalaram-me as gengivas,
apodreci de escorbuto.

Com a mão esquerda benzi-me,
com a direita esganei.
Mil vezes no chão, bati-me,
outras mil me levantei.

Meu riso de dentes podres
ecoou nas sete partidas.
Fundei cidades e vidas,
rompi as arcas e os odres.

Tremi no escuro da selva,
alambique de suores.
Estendi na areia e na relva
mulheres de todas as cores.

Moldei as chaves do mundo
a que outros chamaram seu,
mas quem mergulhou no fundo
Do sonho, esse, fui eu.

O meu sabor é diferente.
Provo-me e saibo-me a sal.
Não se nasce impunemente
nas praias de Portugal.


in Teatro do Mundo, António Gedeão, 1958

Manuel Freire - Poema da malta das naus

Açores: Investigadores fazem expedição a Santa Maria

Investigadores portugueses, espanhóis, italianos, alemães e norte-americanos participam de 22 a 29 de Junho numa expedição científica de paleontologia (ciência que estuda os fósseis) em Santa Maria, a mais antiga ilha dos Açores, escreve a Lusa.

O encontro científico, organizado pelo Departamento de Biologia da Universidade dos Açores, realiza-se pelo quinto ano consecutivo em Santa Maria, por ser a «única ilha do arquipélago conhecida por ter fósseis à vista» explicou Sérgio Ávila, da organização do evento.

«Santa Maria é a ilha mais antiga do arquipélago e a única que possui sedimentos marinhos fossilíferos expostos, intercalados nas suas rochas vulcânicas», disse Sérgio Ávila, acrescentando que a par da exploração de jazidas fossilíferas em Santa Maria, está também programada a deslocação ao ilhéu das Formigas.

Segundo disse, durante a maré baixa serão explorados em detalhe os níveis fossilíferos das formigas e, caso seja possível, serão recolhidas amostras.

Denominado «Paleontologia nas ilhas atlânticas», esta expedição científica vai dar primazia às jazidas Mio-Pliocénicas, que ronda os 5 milhões de anos, da «Pedra-que-Pica», Cré, Malbusca e Ponta do Castelo, indicou Sérgio Ávila.

O autor responsável pelo estudo sistemático dos moluscos marinhos fósseis marienses adiantou que prossegue, em Ponta Delgada, a inventariação e catalogação das amostras recolhidas em Santa Maria o ano passado, durante a quarta edição destas expedições.


in IOL Diário - ler notícia

Poesia de Daniel Filipe

Canto e Lamentação na Cidade Ocupada: Poema 8


O que menos importa é o fato surrado

Afinal cada qual tem o seu próprio fado



Comer um vez por dia não tem importância

É até um bom preceito de elegância



Recear a prisão.....a pancada....as torturas

ora.....quem os manda meter-se em aventuras



Não chegar o dinheiro para pagar o aluguer

nem para ir ao cinema.....nem para ter mulher



Disparates....doutra forma o poder cai na rua

e....lembrem-se senhores....a revolução continua


in a invenção do amor e outros poemas, Daniel Filipe

Stephen Jay Gould: uma lição de vida

Com a devida vénia publicamos o seguinte post, da Doutora Palmira F. da Silva, do Blog do Público De Rerum Natura:


O Carlos já nos revelou que «Sagan e Feynman que me perdoem (ambos já falecidos, tal como Gould, de cancro), Hawking, Watson e Reeves (muito vivos os três) que não fiquem ofendidos, mas Stephen Jay Gould é, de todos eles, quem melhor prosa de divulgação escreveu». A mestria do grande comunicador em transformar qualquer assunto banal numa «lição» de ciência, que permite a quem o escute ou leia integrá-la nas suas vidas, pode ser apreciada na série de entrevistas que concedeu em 1984 (disponível no Youtube).

A actualidade e relevância do pensamento de Gould, que esta série com quasi um quarto de século demonstra claramente, foram ainda evidenciadas recentemente na Science News. Patrick Barry inicia a discussão do artigo «Historical contingency and the evolution of a key innovation in an experimental population of Escherichia coli», publicado online há uma semana nos «Proceedings of the National Academy of Sciences», afirmando que «Se Stephen Jay Gould fosse vivo, estaria a sorrir. Talvez até um sorriso de regozijo (gloating no original) .

O artigo do PNAS sugere, embora não de forma conclusiva, que Gould tinha razão no aceso debate que manteve, nomeadamente com Simon Conway Morris, em relação à sua convicção de que a vida da Terra evoluiu como evoluiu devido a contingências circunstanciais e de que se estes acasos tivessem sido outros a evolução teria sido diferente.

Este é o tema do livro «Vida maravilhosa — O acaso na evolução e a natureza da história», em que Gould compara a evolução a uma fita de vídeo que, depois de visualizada e rebobinada, quando posta a funcionar de novo teria um final diferente: «Existiriam tantas contingências, que não ocorreram da primeira vez, que o curso da história seria outro. Isso é verdade também para a história e a cultura humana; e na evolução é muito frequente».

Embora Gould não seja o «pai» do conceito de contingência histórica do processo evolucionário, certamente foi um de seus mais importantes entusiastas e divulgadores. Um dos exemplos que utilizou para explicar a sua perspectiva, o desaparecimento dos dinossáurios há cerca de 65 milhões de anos, entre o Cretáceo e o Terciário (transição K-T), é desenvolvido com muita clareza no último livro que publicou ainda em vida.

«Dinossáurios e mamíferos partilharam a Terra por 130 milhões de anos, o dobro do período de sucesso dos mamíferos que se seguiu e que levou à emergência do Homo sapiens entre as outras 4.000 outras espécies vivas da nossa classe Mammalia. [...] podemos conjecturar que, na ausência deste acidente cósmico, os dinossáurios ainda dominariam os habitats de grandes animais terrestres e os mamíferos ainda seriam criaturas das dimensões de ratos, vivendo nos interstícios ecológicos do mundo reptiliano. Neste episódio, mais vitalmente pessoal que qualquer outro, deveríamos literalmente agradecer à nossa estrela da sorte [...] que na vigência das novas regras do impacto K-T certas marcas da nossa incompetência ancestral – persistência de um pequeno tamanho no mundo dos dinossáurios, por exemplo – subitamente se tenham transformado em vantagens cruciais e fortuitas enquanto a fonte prévia de triunfo para os dinossauros [o seu grande tamanho] levou à sua tragédia.

Demócrito, um dos «pais» do atomismo juntamente com Epicuro, o filósofo que inspirou o «De Rerum Natura» de Lucrécio, dizia que «tudo no universo é fruto do acaso e da necessidade». Este artigo no PNAS parece indicar que as memórias de Gould e de Demócrito se regozijariam com a notícia.

quarta-feira, junho 11, 2008

Amália e Camões

Amália Rodrigues - Com que voz


com que voz



Com que voz chorarei meu triste fado,
que em tão dura prisão me sepultou,
que mor não seja a dor que me deixou
o tempo, de meu bem desenganado?

Mas chorar não se estima neste estado,
onde suspirar nunca aproveitou;
triste quero viver, pois se mudou
em tristeza a alegria do passado.

Assim a vida passo descontente,
ao som nesta prisão do grilhão duro
que lastima o pé que o sofre e sente!

De tanto mal a causa é amor puro,
devido a quem de mi tenho ausente
por quem a vida, e bens dela, aventuro.

terça-feira, junho 10, 2008

Vamos homenagear Fernando Pessoa?


Num dos sites da TV Globo, do Brasil, pode ler-se isto:

Fernando Pessoa, um dos ícones mais populares do século XX, viveu praticamente no anonimato. Publicou apenas um livro em português, "Mensagem", em 1934, um ano antes de morrer. Mas deixou cerca de 27 mil escritos que, desde os anos 40, vêm sendo revelados a um público cada vez maior e mais diversificado. O jornalista e poeta Claufe Rodrigues foi a Lisboa para contar a história do maior escritor português desde Camões. Visitou os lugares que ele frequentava, entrevistou diversos especialistas e conversou com as duas únicas pessoas ainda vivas que conviveram com o poeta. A fascinante história do homem que escolheu viver uma vida pequena para construir uma grande obra será exibida na Globo News por ocasião dos 120 anos de nascimento de Fernando Pessoa (comemorados no dia 13 de junho deste ano).
Neste site podem ver os programas na íntegra (com a participação de uma cara minha conhecida...), ler poesia, testar conhecimentos, ver caricaturas e muitas mais coisas.

Já que o nosso país o olvida, ao menos os nossos irmãos brasileiros para recordar um dos dois maiores poetas portugueses:

Torga e Camões III


Macau, 10 de Junho de 1987

Na Gruta de Camões


Tinhas de ser assim:

O primeiro

Encoberto

Da nação.

Tudo ser bruma em ti

E claridade.

O berço,

A vida,

O rastro

E a própria sepultura.

Presente

E ausente

Em cada conjuntura

Do teu destino.

Poeta universal

De Portugal

E homem clandestino.


Miguel Torga in Diário XV, 1990

Torga e Camões II

Coimbra, 11 de Janeiro de 1980

Lápide


Luís Vaz de Camões.

Poeta infortunado e tutelar.

Fez o milagre de ressuscitar

A Pátria em que nasceu.

Quando, vidente, a viu

A caminho da negra sepultura,

Num poema de amor e de aventura

Deu-lhe a vida

Perdida.

E agora,

Nesta segunda hora

De vil tristeza,

Imortal,

É ele ainda a única certeza

De Portugal.


Miguel Torga in Diário XIII

Torga e Camões

Camões


Nem tenho versos, cedro desmedido

Da pequena floresta portuguesa!

Nem tenho versos, de tão comovido

Que fico a olhar de longe tal grandeza.



Quem te pode cantar, depois do Canto

Que deste à pátria, que to não merece?

O sol da inspiração que acendo e que levanto

Chega aos teus pés e como que arrefece.



Chamar-te génio é justo, mas é pouco.

Chamar-te herói, é dar-te um só poder.

Poeta dum império que era louco,

Foste louco a cantar e louco a combater.



Sirva, pois, de poema este respeito

Que te devo e professo,

Única nau de sonho insatisfeito

Que não teve regresso!


Miguel Torga in Poemas Ibéricos, 1965

Bocage e Camões

Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,
Arrostar co' o sacrílego gigante;

Como tu, junto ao Ganges sussurrante,
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante.

Ludíbrio, como tu, da Sorte dura
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura.

Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!...
Se te imito nos transes da Ventura,
Não te imito nos dons da Natureza.


Post de Pedro Luna in Blog Em defesa da Escola Pública e da Dignidade da Docência

Sextina camoniana




Foge-me pouco a pouco a curta vida,
– se por caso é verdade que inda vivo – ;
vai-se-me o breve tempo d’ante os olhos;
choro pelo passado em quanto falo,
se me passam os dias passo a passo,
vai-se-me enfim a idade, e fica a pena.

Que maneira tão áspera de pena!
Que nunca uma hora viu tão longa vida
em que possa do mal mover-se um passo!
Que mais me monta ser morto que vivo?
Para que choro, enfim? Para que falo,
se lograr-me não pude de meus olhos?

Ó fermosos, gentis e claros olhos,
cuja ausência me move a tanta pena,
quanta se não compreende em quanto falo!
Se, no fim de tão longa e curta vida,
de vós m’inda inflamasse o raio vivo,
por bem teria tudo quanto passo.

Mas bem sei que primeiro o extremo passo
me há-de vir a cerrar os tristes olhos
que Amor me mostre aqueles por que vivo.
Testemunhas serão a tinta e pena,
que escreveram de tão molesta vida
o menos que passei, e o mais que falo.

Oh! Que não sei que escrevo, nem que falo!
Que se de um pensamento noutro passo,
vejo tão triste género de vida
que, se lhe não valerem tanto os olhos,
não posso imaginar qual seja a pena
que traslade esta pena com que vivo.

Na alma tenho contino um fogo vivo,
que, se não respirasse no que falo,
estaria já feita cinza a pena;
mas, sobre a maior dor que sofro e passo
me temperam as lágrimas dos olhos,
com que, fugindo, não se acaba a vida.

Morrendo estou na vida, e em morte vivo;
vejo sem olhos e sem língua falo;
e juntamente passo glória e pena.

Amor é um fogo que arde sem se ver




Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter, com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Música alusiva à data...

Valsinha das Medalhas - Rui Veloso
(letra Rui Veloso e Carlos Tê, música Rui Veloso)


Valsinha das Medalhas - Rui Veloso



Já chegou o dez de Junho, o dia da minha raça
Tocam cornetas na rua, brilham medalhas na praça
Rolam já as merendas, na toalha da parada
Para depois das comendas, e Ordens de Torre e Espada
Na tribuna do galarim, entre veludo e cetim
Toca a banda da marinha, e o povo canta a valsinha


REFRÃO
Encosta o teu peito ao meu, sente a comoção e chora
Ergue o olhar para o céu, que a gente não se vai embora
Quem és tu donde vens, conta-nos lá os teus feitos
Que eu nunca vi pátria assim, pequena e com tantos peitos


Já chegou o dez de Junho, há cerimónia na praça
Há colchas nos varandins, é a Guarda d'Honra que passa
Desfilam entre grinaldas, velhos heróis d'alfinete
Trazem debaixo das fraldas, mais Índias de gabinete
Na tribuna do galarim, entre veludo e cetim
Toca a banda da marinha, e o povo canta a valsinha

Dia de Portugal - outra poesia

O Meu Pior Poema

...

Tá, tátátáaa! Tátátá, tátátáaaa!
Trrrrum! Trrrrum!
Trrrrum! Trrrrum!
Prrrpum! Prrrpum!
Tá, tátátá! Tarari, tátátáaaa!
Tá! Tátá! Tátá, tátá, tátá!
Trrrrrrum!!
Trrrrrr... rum! Trrrrrrr... rum!
Trrrr... rum! Trrrrr... rum!
Trrr... rum! Trrr... rum!
Trrrr... pum!!

...

Click! Click! Click!
Foooogo!!
BUUUUUMM!!!

(Chegaram.
Viram.
Mataram.
Ah! Valorosos!
A Pátria vos saúda!)


in Sonhos Salgados, Adelino, 1997

Dia de Portugal - António Gedeão



Poema da Alfarrobeira



Era Maio, e havia flores vermelhas e amarelas

nos campos de Alfarrobeira.



O homem,

de burel grosso e barba de seis dias,

arrastava os tamancos e o cansaço.

Ao lado iam seguindo os bois puxando o carro,

naquele morosíssimo compasso

que engole o tempo ruminando o espaço.



Era um velho mas tinha a voz sonora

e com ela incitava os bois em andamento,

voz cantada que os ecos prolongavam

indefinidamente.

Era um deus soberano e maltrapilho

a cuja imperiosa voz aquelas massas

de carne musculada

maciça, rude, bruta, inamovível,

obedeciam mansas e seguiam

no sulco aberto

como se um pulso alado as dirigisse,

mornas e sonolentas.



A voz era a de um deus que os mundos cria,

que do nada faz tudo,

que vence a inércia e anula a gravidade,

que levita o que pesa e o trata como leve.

Potência aliciadora alonga-se e prolonga-se

nos plainos da paisagem,

enquanto os animais prosseguem no caminho

do seu quotidiano,

pensativos e absortos.



Lá em baixo, na margem do ribeiro,

estendido sobre a erva,

jaz o infante.

Do seu coração ergue-se a haste de um virote

erecta como um junco,

e já nenhuma voz o acordará.



in Novos Poemas Póstumos – António Gedeão

Dia de Portugal - Pablo Neruda III

II La Cítara Olvidada

Oh Portugal hermoso
cesta de fruta y flores,
emergesen la orilla plateada del océano,
en la espuma de Europa,
con la cítara de oro
que te dejó Camoens,
cantando con dulzura,
esparciendo en las bocas del Atlántico
tu tempestuoso olor de vinerías,
de azahares marinos,
tu luminosa luna entrecortada
por nubes y tormentas.

Pablo Neruda



Dia de Portugal - Pablo Neruda II

V La Lámpara Marina

Portugal, vuelve al mar, a tus navíos,
Portugal, vuelve al hombre, al marinero,
vuelve a la tierra tuya, a tu fragancia,
a tu razón libre en el viento,
de nuevoa la luz matutina
del clavel y la espuma.
Muéstranos tu tesoro,
tus hombres, tus mujeres.
No escondas más tu rostro
de embarcación valiente
puesta en las avanzadas de Océano.
Portugal, navegante,
descubridor de islas,
inventor de pimientas,
descubre el nuevo hombre,
las islas asombradas,
descubre el archipélago en el tiempo.
La súbita
aparición
del pan
sobre la mesa,
la aurora,
tú, descúbrela,
descubridor de auroras.
Cómo es esto?
Cómo puedes negarte
al ciclo de la luz tú que mostraste
caminos a los ciegos?
Tú, dulce y férreo y viejo,
angosto y ancho padre
del horizonte, cómo
puedes cerrar la puerta
a los nuevos racimos
y al viento con estrellas del Oriente?
Proa de Europa, busca
en la corriente
las olas ancestrales,
la marítima barba
de Camoens.
Rompe
las telaranãs
que cubren tu fragrante arboladura,
y entonces
a nosotros los hijos de tus hijos,
aquellos para quienes
descubriste la arena
hasta entonces oscura de la geografía deslumbrante,
muéstranos que tú puedes
atravesar de nuevo
el nuevo mar oscuro
y descubrir al hombre que ha nacido
en las islas más grandes de la tierra.
Navega, Portugal, la hora
llégó, levanta
tu estatura de proa
y entre las islas y los hombres vuelve
a ser camino.
En esta edad agrega
tu luz, vuelve a ser lámpara:
aprenderás de nuevo a ser estrella.

Pablo Neruda

Pablo_neruda_1

Dia de Portugal - Pablo Neruda


SAUDADE


Saudade
—¿Qué será?... yo no sé... lo he buscado
en unos diccionarios empolvados y antiguos
y en otros libros que no me han dado el significado
de esta dulce palabra de perfiles ambiguos.

Dicen que azules son las montañas como ella,
que en ella se oscurecen los amores lejanos,
y un noble y buen amigo mío (y de las estrellas)
la nombra en un temblor de trenzas y de manos.

Y hoy en Eça de Queiroz sin mirar la adivino,
su secreto se evade, su dulzura me obsede
como una mariposa de cuerpo extraño y fino
siempre lejos —¡tan lejos!— de mis tranquilas redes.

Saudade... Oiga, vecino, ¿sabe el significado
de esta palabra blanca que como un pez se evade?
No... Y me tiembla en la boca su temblor delicado...
Saudade...

in Crepusculario - LOS CREPÚSCULOS DE MARURI - Pablo Neruda

segunda-feira, junho 09, 2008

Zeca canta Fernando Pessoa


No comboio descendente - Zeca Afonso:



No comboio descendente
Vinha tudo à gargalhada.
Uns por verem rir os outros
E outros sem ser por nada
No comboio descendente
De Queluz à Cruz Quebrada...

No comboio descendente
Vinham todos à janela
Uns calados para os outros
E outros a dar-lhes trela
No comboio descendente
De Cruz Quebrada a Palmela...

No comboio descendente
Mas que grande reinação!
Uns dormindo, outros com sono,
E outros nem sim nem não
No comboio descendente
De Palmela a Portimão

Fernando Pessoa

A Galiza canta Camões em homenagem a Zeca Afonso

Uxia - Verdes São Os Campos




Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.

José Mário Branco canta soneto de Camões




Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades - José Mário Branco


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já foi coberto de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Dia de Camões e de Portugal

Camões e a tença


Irás ao paço. Irás pedir que a tença
Seja paga na data combinada.
Este país te mata lentamente
País que tu chamaste e não responde
País que tu nomeias e não nasce.

Em tua perdição se conjuraram
Calúnias desamor inveja ardente
E sempre os inimigos sobejaram
A quem ousou ser mais que a outra gente.

E aqueles que invocaste não te viram
Porque estavam curvados e dobrados
Pela paciência cuja mão de cinza
Tinha apagado os olhos no seu rosto.

Irás ao paço irás pacientemente
Pois não te pedem canto mas paciência.

Este país te mata lentamente.


Sophia de Mello Breyner Andresen, Grades (1970)

Uma agonia chamada Museu Nacional de História Natural

Publicamos o seguinte post, do Professor Doutor Galopim de Carvalho (com foto minha, numa actividade, em 2005, na Escola Secundária Francisco Rodrigues Lobo, em Leiria), alusivo ao Dia Mundial dos Museus e retirado do seu interessantíssimo Blog Sopas de Pedra:


No momento que estamos a viver, um momento particularmente preocupante para a vida dos museus sedeados na Escola Politécnica, e a fim de colocar responsabilidades nos seus respectivos agentes, é oportuno recordar um desabafo que publiquei, na introdução do volume nº 15 de “GAIA”, a Revista de Geociências do Museu Nacional de História Natural, de há oito anos (*), era eu ainda director desta instituição da Universidade de Lisboa.

COM UM QUADRO DE PESSOAL EM EXTINÇÃO, um orçamento estatal praticamente inalterado desde 1985 (há 15 anos) e as conhecidas e deploráveis condições em que se encontra, o Museu Nacional de História Natural sobrevive e teima em afirmar a sua vocação de entidade promotora de investigação e de divulgação científicas, cuja obra, conhecida pelos seus pares nacionais e estrangeiros e pelo público português, lhe conferem um prestígio que contrasta com a atenção que lhe tem sido dispensada pela Administração. Uma tal situação, que caracteriza o seu dia-a-dia no seio da maior Universidade do País, arrasta-se sem esperança de solução, desde o incêndio da Faculdade de Ciências, há vinte e dois anos. Uma tragédia que não só o destruiu em grande parte, como o privou do convívio vivificante dessa Faculdade, de que era estabelecimento anexo. Vinte e dois anos de luta empenhada, com muito trabalho realizado dentro e fora dos seus espaços esventrados, vazios e em tosco, sem qualquer eco por parte dos sucessivos governos, num desinteresse só explicável pela tradicional falta de cultura científica dos portugueses, incluindo governantes, com a natural e óbvia excepção de um ou outro oriundo do sector científico. No que toca a sua tutela mais directa, é justo lembrar a muita simpatia que sempre lhe foi dispensada pelos sucessivos reitores que, sem excepção e na medida das suas também poucas possibilidades, nos foram e vão dando respostas pontuais a muitas das solicitações que lhes foram e são dirigidas. Nunca, porém, a Universidade assumiu frontal, empenhada e visivelmente qualquer acção de fundo no sentido de inverter este deslizar para o fim, revalorizando um património científico e cultural que herdou da velha Escola Politécnica, a caminho de dois séculos ao serviço das Ciências da Natureza. Com o peso enorme que tem, e de que se não se dá conta, a Universidade de Lisboa, com os seus milhares de alunos e professores, muitos destes personalidades de elevada posição no tecido social e político, não teria dificuldade em mobilizar a opinião pública e assim pressionar o poder a fazer aquilo que ele nem se lembra que também faz falta aos portugueses. Continuamos, assim, a gerir a crise, agora com encorajamentos à produção de receitas próprias, numa política talvez inspirada de cima mas que esquece os deveres do Estado na promoção cultural dos seus cidadãos. Neste quadro é lícito admitir que a Universidade de Lisboa, no seu todo, enorme na dimensão e nas suas múltiplas e vastas preocupações e sensibilidades, tem vindo a arrastar, como um fardo, este seu valioso sector de investigação e de contacto com o grande público, que só não deixa cair porque isso, vergonha das vergonhas, seria a negação inaceitável da sua própria essência.

COM OUTRA HISTÓRIA, bem mais recente, mas igualmente triste, o Museu de Ciência tem sido, desde o seu início, o nosso companheiro nesta travessia do deserto. Detentor de invulgar património científico e cultural como são, por exemplo, a sua preciosa biblioteca, com primeiras edições de grandes nomes da Ciência, com o seu magnífico laboratório de Química, única relíquia do séc. XIX, e com um trabalho pedagógico igualmente notável, esta outra dependência da Universidade de Lisboa, não está melhor do que nós e, igualmente, desespera. Há, pois, que encontrar uma solução para estes Museus, de preferência com a Universidade, mas, se necessário, fora dela. É uma responsabilidade da nossa geração, universitários, governantes, cidadãos em geral. Todos seremos julgados pelo quase nada que fizemos e pelo muito que deixámos por fazer.

NO DIA MUNDIAL dos museus, data que sempre recordamos mas não festejamos, aqui fica a expressão do desencanto e da mágoa de quem sente que sai derrotado após quarenta anos ao serviço da Universidade, um terço dos quais neste Museu, com a enorme frustração de não ter podido ou sabido levar a bom termo esta causa.

(*) 18 de Maio de 2000

Portugal, país de poetas e poesia

Vamos hoje iniciar uma série de posts sobre poetas portugueses e a sua poesia, pois, na véspera do Dia de Portugal (somos o único país do Mundo que comemora o nascimento de um poeta - zarolho e tudo - como o seu maior cidadão...) e pouco antes de se comemorarem os 120 anos do nascimento de Fernando Pessoa (já no próximo dia de S.º António) há que celebrar as palavras e as ideias dos portugueses que se tornaram imortais... Pois se a euforia de uns tipos que fazem poesia com os pés (e a cabeça...) nos faz esquecer o quão fundo batemos enquanto nação, há que pegar na Poesia e recordar o que de facto interessa.




Nevoeiro

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!


in Mensagem, Fernando Pessoa

domingo, junho 08, 2008

Sismo na Grécia - notícia no Público

Abalo de 6,5 na escala de Richter
Grécia: sismo no Peloponeso mata duas pessoas e fere mais de 30
08.06.2008 - 18h47 Agências

O violento sismo de 6,5 na escala de Richter que abalou hoje a península grega de Peloponeso, no sul do país, matou duas pessoas e feriu pelo menos trinta, provocando ainda vários danos em habitações.

Um homem de cerca de 60 anos foi esmagado pelo tecto da sua casa, em Kato Achaïa, a noroeste do Peloponeso. Na mesma zona, uma mulher de 80 anos morreu com uma paragem cardíaca, na sequência do sismo.

De acordo com as entidades que estão a prestar auxílio nas regiões afectada, até ao momento há pelo menos trinta feridos, a maior parte com fracturas.

O abalo, que se sentiu em várias zonas, chegando mesmo a Atenas, aconteceu às 15h25 locais (12h25 de Lisboa), a 205 quilómetros a oeste da capital, de acordo com o Instituto Geodinâmico do Observatório de Atenas.

“O sismo foi terrível, nunca se tinha sentido tanto apesar de estarmos acostumados a este tipo de fenómenos. Durou muito tempo e todos saíram para a rua”, disse à televisão pública Net o presidente da Câmara Municipal de Pyrgos, Georges Paraskevopoulos.

Quando a danos materiais, algumas testemunhas referiram que a principal igreja da cidade sofre “grandes estragos” e que os edifícios do centro, os mais antigos, ficaram com muitas fissuras.

Além disso, a circulação foi cortada em Diakopto, devido a um desabamento que afectou também a linha de comboio, e várias localidades ficaram sem electricidade, o que tem dificultado as comunicações.

As autoridades já alertaram que são de esperar réplicas fortes do sismo nos próximos dias e apelaram ao sangue frio dos gregos para evitar cenas de pânico como as deste domingo.

Uma equipa de especialistas em estruturas começou entretanto a verificar o estado das escolas para garantir que os alunos não correm perigo.


in Público on-line - ler notícia

sábado, junho 07, 2008

Actividade - Noite no LABORATORIUM‏


Do Visionarium, em Santa Maria da Feira (um dos melhores Centros de Ciência do nosso país...) recebemos o pedido de divulgação da seguinte actividade:

(clicar para aumentar)

quinta-feira, junho 05, 2008

Dia Mundial do Ambiente

Recordemos o dia de hoje com um poema de Torga:



A um Negrilho


S. Martinho de Anta, 26 de Abril de 1954

Na terra onde nasci há um só poeta.
Os meus versos são folhas dos seus ramos.
Quando chego de longe e conversamos,
É ele que me revela o mundo visitado.
Desce a noite do céu, ergue-se a madrugada,
E a luz do sol aceso ou apagado
É nos seus olhos que se vê pousada.

Esse poeta és tu, mestre da inquietação
Serena!
Tu, imortal avena
Que harmonizas o vento e adormeces o imenso
Redil de estrelas ao luar maninho.
Tu, gigante a sonhar, bosque suspenso
Onde os pássaros e o tempo fazem ninho!


Miguel Torga in Diário VII (1956)

terça-feira, junho 03, 2008

Homenagem ao Professor Doutor António Ferreira Soares

A TERRA: CONFLITOS E ORDEM

Colóquio de homenagem ao Professor Doutor António Ferreira Soares

Auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra
8 de Novembro de 2008


A Ciência faz-se de ideias criativas e de saberes acumulados pacientemente, a que a modéstia, a reflexão e a capacidade de trabalho não são alheias. Como melodias ou estilos que passam de moda, os contributos científicos têm o seu tempo, para depois se diluírem no património anónimo que detém cada ramo do saber. Deste contínuo sobressaem esteios, sobre os quais repousam as marcas indeléveis deixadas por personalidades marcantes, cujo carácter, erudição e obra contribuíram de modo expressivo para o progresso de um domínio do conhecimento.

Tais factos ditam a presente homenagem, merecida por quem labuta há mais de meio século nas entrelinhas do livro da Terra, descochando novelos do grande e intricado nó górdio que é a Geologia de Portugal. O seu estilo e saberes são conhecidos por todos aqueles que fizeram das ciências geológicas e geográficas o seu modus operandi, muitos dos quais antigos alunos ou orientandos, nos quais se arraigaram raízes e laivos profundos do leitmotiv que o Mestre sempre procurou imprimir.

Assim desponta este convite à comunidade científica e ao universo escolar português, para um convívio singelo na Universidade de Coimbra, em torno de um justo tributo ao Professor Doutor António Ferreira Soares e ao seu papel incontornável, sempre cumprido de forma entusiasta, em prol da ciência e do ensino.

Seminário "Paisagens Geológicas da Nazaré"


Paisagens Geológicas da Nazaré:
Encontros do Mar, da Terra e das Gentes


12 a 14 de Junho 2008

CINE-TEATRO DA NAZARÉ


Estância de veraneio afamada e dilecta, sítio de romarias em que a história e a lenda se abraçam, areal de faina secular em que o pitoresco do espaço e das gentes mereceu a pena talentosa de Ramalho Ortigão,a Nazaré é também o ponto nevrálgico de uma região de rara beleza e imponência naturais,onde se concentram numerosos locais de importância geológica e arqueológica.

Nessa senda e com o intuito de estimular o interesse do público em geral, pelo riquíssimo património histórico e natural da Nazaré, propomos o ensejo de um momento diferente,em sã convivência com membros da comunidade científica nacional, cujos estudos têm vindo a focar temáticas de interesse local e regional, nos domínios das Ciências da Terra.

O Seminário Paisagens geológicas da Nazaré:encontros do mar, da terra e das gentes surge, de igual forma, como um meio de estimular o conhecimento dos mais jovens sobre as curiosidades naturais da sua Terra, para que melhor a apreciem e aprendam na leitura dos seus recantos milenares.

domingo, junho 01, 2008

Dia Mundial da Criança

Dormindo

Miniatura


Pois eu gosto de crianças!
Já fui criança também…
Não me lembro de o ter sido;
Mas só ver reproduzido
O que fui, sabe-me bem.

É como se de repente
A minha imagem mudasse
No cristal duma nascente,
E tudo o que sou voltasse
À pureza da semente.


Miguel Torga in Diário VIII (Coimbra, 11 de Abril de 1957)

Crise sísmica no Faial - Açores

Transcreve-se neste post a última notícia publicada na página do Centro de Vulcanologia e Avaliação de Riscos Geológicos, das várias já ali colocadas sobre o assunto em título.

"O Sistema de Vigilância Sismovulcânica dos Açores informa que a actividade sísmica registada na Ilha do Faial desde o dia 20 de Maio, no sector leste da ilha, na estrutura tectónica denominada Graben de Pedro Miguel, se mantém acima do normal.
A partir do início do dia 26 verificou-se um ligeiro incremento na frequência horária. Os eventos registados continuam a ser de fraca magnitude (menor que 2 na escala de Richter), não havendo informação de qualquer um ter sido sentido pela população . Face à localização epicentral sismos de magnitude ligeiramente mais elevada poderão vir a ser facilmente sentidos pela população. Nova informação será fornecida sempre que necessário. "

Tenho conhecimento de apenas 2 eventos terem sido sentidos pela população e com intensidade máxima de III na Escala de Mercalli.

A calma é a melhor conselheira de comportamentos nestes casos, bem como o respeito pelas tradicionais regras de segurança que habitualmente são difundidas pela Protecção Civil.


ADENDA: à informação deste post, do interessantíssimo Blog GEOCRUSOE, pode acrescentar-se o seguinte texto, de 01/06/2008 às 12.00 horas, do Centro de Vulcanologia e Avaliação de Riscos Geológicos:

Continua a registar-se actividade sísmica na ilha do Faial

A actividade sísmica registada na Ilha do Faial desde o dia 20 de Maio, no sector leste da ilha, na estrutura tectónica denominada Graben de Pedro Miguel, mantém-se acima do normal e estacionária.

Durante o dia 31 o número de eventos foi semelhante aos dos dias anteriores. Os eventos registados continuam a ser de fraca magnitude, assinalando-se o ocorrido às 21.56 horas (locais).

Face à localização epicentral, mantém-se a possibilidade de sismos de magnitude ligeiramente mais elevada continuarem a ser facilmente sentidos pela população.

O SIVISA continua a acompanhar o evoluir da situação. Novos comunicados serão emitidos sempre que necessário.

Nova informação será fornecida sempre que necessário.

NOTA: mais informações em "Actividade sismovulcânica"

Música dos Sigur Rós - a Islândia em toda a sua pureza...

Sigur Rós - Glósóli



Glósóli - Glowing sole

Now that you're awake
Everything seems different
I look around
But there's nothing at all

Put on my shoes,
I then find that
She is still in her pyjamas
Then found in a dream
I'm hung by (an) anticlimax

She is with the sun
And it's out here

But where are you...
Go on a journey
And roam the streets
Can't see the way out
And so use the stars
She sits for eternity
And then climbs out
She's the glowing sole
So come out I awake from a nightmare
My heart is beating
Out of control...

I've become so used to this craziness
That it's now compulsory
And here you are...
I'm feeling...
And here you are, Glowing sole...
And here you are, Glowing sole...
And here you are, Glowing sole...
And here you are...

Tradução de islandês para inglês tirada daqui

Pedras em corte…

O título deste artigo é apenas um pretexto para observar como é a estrutura interna dos agregados globulares de wavellite. Trata-se de uma imagem de mais um exemplar de Mauldin, Arkansas.

Agregado globular de cristais de wavellite, corte polido com 2 cm, Mauldin Mountain, Arkansas, EUA.

Colecção de Ricardo Pimentel e foto de William Wall.


Roubado ao Blog Pedras Soltas, post do colega Ricardo Pimentel

VIII Feira de Minerais, Rochas e Fósseis da Escola Correia Mateus


Irá decorrer, na Escola Sede do Agrupamento de Escolas dr. Corria Mateus, mais uma feira de minerais - a VIII Feira de Minerais, Rochas e Fósseis da Escola Correia Mateus. Esta será apenas para os alunos do Agrupamento, em particular os da Escola Sede (embora caso haja interessados possamos abrir uma excepção...).

Organizada pelo Departamento de Ciências Físicas e Naturais da Escola, terá a presença da empresa Minermós e do seu gerente José Teixeira, a quem agradecemos a disponibilidade e simpatia com que faz estas coisas.